Festa no Grupo Escolar
 
Luiz Carlos Pais
 
Esta crônica permite retornar ao mês de dezembro de 1916 para reviver, como gesto de afeto e reconhecimento pelo trabalho de mestres primários de outrora, uma festa de encerramento do ano letivo do Grupo Escolar Campos do Amaral, na cidade de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do sudoeste mineiro. Vigorava a política do café com leite da República Velha. Esse estabelecimento de ensino primário, cujos estudos correspondentes aos atuais anos iniciais do ensino fundamental, tinha sido inaugurado no início daquele ano. Era preciso então mostrar à comunidade local, com a estreita vigilância dos coroneis políticos da cidade, o balanço dos trabalhos realizados durante todo o ano letivo. Durante uma semana inteira, até as 22 horas, o Grupo Escolar recebia visita da sociedade local para assistir às demonstrações literárias, teatrais e musicais, sempre “abrilhantados” por discursos dos líderes políticos. Uma grande coleção de trabalhos manuais escolares foi exposta à apreciação de todos, incluindo trabalhos de redação, poesias e composições premiadas. Homenagens foram prestadas aos políticos próximos e distantes. Grandes fotografias foram expostas nas paredes da escola. Naquele momento, exercia a direção do Grupo, o professor Gedor Silveira, cuja esposa, professora Luiza Aurora de Aguiar Silveira, conhecida como Dona Luizinha, também pertencia ao corpo docente do Grupo Escolar. Ambos eram formados em tradicionais cursos normais de Minas Gerais e exerciam as funções de professores públicos de instrução primária desde 1899. Uma pequena biblioteca foi montada para atender alunos, professores e à comunidade, bem como uma pequena farmácia para atender aos casos mais simples. Uma banda de música e um coral completavam a formação cultural dos alunos. Cerca de 500 alunos e alunas estavam matriculados naquele ano, distribuídos em oito classes, quatro para meninos e as outras quatro para as meninas. Somente depois de alguns anos é que passaram a existir as chamadas salas mistas. (Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 de Dezembro de 1916)