Desabafo brasilis

Notícias temos o tempo todo. Toda a mídia está à nossa disposição ora bem intencionada, cumprindo seu papel, ora pau-mandado tentando induzir, defendendo interesses escusos.

A mídia que se faz na fila é muito interessante. O compartilhamento nesse momento de espera pode ser muito útil e revelador. Mais uma história da fila... Como bom brasileiro, ¨que não desisti nunca¨, fui atrás de pagar contas e fazer a fezinha. A fezinha... ¨ato de buscar a sorte em algum sistema de apostas¨. Acreditar em sua própria sorte e que o sistema gestor seja idôneo e possua credibilidade. E eu que de LOTOFÁCIL, aprofundei e fiz estudo. Sistematizei, planejei e criei com segurança o conceito que chamei, CONSTANTE RENTÁVEL. Simples; os prêmios são em ordem crescente assim distribuídos: 11 pontos(4,00), 12 pontos(8,00), 13pontos(20,00), 14 pontos(20%arrec.), 15 pontos( 65%arrec.). A CONSTANTE RENTÁVEL consisti, em se jogando as centenas de cartões planejados dentro de descobertas importantes e absolutamente relevantes, assim teríamos, entre os acertos para 11. 12, 13 e 14 pontos, o retorno do que jogaríamos e com lucro, entendendo e esperando que eventualmente os 15 pontos, o grande prêmio aconteceria. Daí a CONSTANTE RENTÁVEL.

Meus primeiros sócios foram meus amigos, pai e filho, físicos. O primeiro, catedrático na UFMG, o segundo meu amigo, meu irmãozinho, geniozinho mestrando da matéria, que com apenas 19 anos, já havia publicado artigo em uma das principais revistas de física no mundo. Depois de explanação feita, aprovada e certificada, por tais, que comem e respiram matemática complexa, o pai, viria a se tornar o principal investidor do nosso esperançoso, porém, bem calculado empreendimento. Outros também agreguei quantificando as possibilidades de acertos. Assim eu entrava com o estudo, o sistema e muito trabalho sozinho, esmerando em cima de dezenas de centenas de cartões madrugada a dentro. Meus parceiros entravam com valores variados e detinham cada um o proporcional à sua cota. A minha parte era 40% e eles dividiam os outro 60% sem pestanejar. A coisa era tão boa e vendia-se tão bem que todos aguardavam os lucros. Depois de aproximadamente um ano, quando deveríamos já estar comemorando e só aumentando o quantitativo de cartões, cercando cada vez mais o pote de ouro, depois de uns 6 ou 7 mil reais perdidos sem acertar nenhum 14 pontos que quando viesse seria sempre multiplicado, anunciei nova conclusão do estudo e decisão de minha parte: observei que absurdos aconteciam com estranha regularidade nos resultados dos sorteios e conclui: MANIPULAÇÃO. Anunciei o fim de nossa aventura por descrença total na gestora da sorte dos brasileiros, a ¨C-oisa E-nviada pelo F-eioso¨. Contrariei alguns de meus parceiros que ainda acreditavam, justamente porque o estudo apontou um caminho que deveria acontecer.

Nunca deixei de acompanhar, observando, atualizando o estudo e me permitindo a ingenuidade de em todos os concursos firmar mais uma experiência, mais uma ou duas fezinhas. Conclusão: tenho uns 7 anos de lotofácil, nem vou atrever um trocadilho... Digo: essa faculdade está completa. Os 14 pontos serão meu mestrado e os 15 o doutorado.

E porque tudo isso? Porque ali onde eu estava e sempre estou, na fila, com essa brasilidade de sempre, esperançoso, esperar ou pagar, ali, aqui, acolá, já me doutorei há muito. Ali na fila hoje mais uma vez puxei conversa, brinquei, cutuquei, sorri, perdi a paciência e ali parado, obrigado, tive de encontrá-la novamente. Ali como tantas outras vezes meu inseparável amigo-irmão querido, Osmar, meu eterno interlocutor ¨celfônico¨, me chama e comunica que o nosso indestrutível ¨molusco Paul¨, esse não morre e não esmorece! Que pesquisa indica que se se candidatasse hoje seria eleito novamente! Como é comum em várias de nossas conversas exasperei: - Pára! Você acredita nisso? conversa fiada! Matéria paga! Olhei pros lados, os olhos da fila em mim. ¨Da cabeça, passando pelo corpo, até o rabo¨. Que fila é essa? pensei... Vai me picar? temi... Sem desligar o celular, transmitindo em tempo real ao meu irmão, reagi. Exaltei! Enfrentei e indaguei a fila (todos já ouviam e participavam com suas opiniões ocultas): - É possível! Alguém aqui ainda acredita? Alguém ainda votaria neste patife? Meneios de cabeças, risadas, cochichos e poucas caras amarradas discordando... - - Aqui, meu irmão, essa pesquisa não cola. Se colar, se esse canalha for reeleito novamente por tamanha ignorância estúpida, eu mato. Pode o restante desse povo, o que ainda tem capacidade de julgo, que tem juízo, me contratar. Acabo com o desgraçado! Este não empossa mais.

Ali na fila mais uma vez, com as pessoas... Esbarrando no empurra-empurra, justificando dívidas e carregando sonhos. Eu tentando não ser como muitas vezes somos, quando conseguimos através de estudos ou por experiência adquirir pensamento próprio, visão do que é ou se forma. Tentando não ser mais um que desisti e passa a desprezar com desdém ácido, àquele que não conseguiu se formar em si mesmo e em sua própria opinião. Mais uma vez ali na fila chegando à conclusão mais do que óbvia de que falta educação, escola. E mais escola e escola e escola e escola, e que a merenda seja FILOSIFIA PURA!... Para nos formar cada um em ciências várias e todos em conjunto em um único caráter... Aquela que gerará o CIDADÃO que tomará toda e qualquer profissão com orgulho e respeito a si e ao próximo. Falo dessa escola que formará mentes que sãs, não se deixarão levar pela mentira de que tudo que gera capital é trabalho e merece respeito. Nós temos visto muito isso... Tapinhas nas costas, correção nenhuma, e lá vai mais um ladrão profissional, com credenciais de ESTADO, que nos rouba os sonhos e até a nossa tão particular sorte, a nossa fezinha... E uma chuvinha e mais uma chuvinha e chove mais... Mais uma vez tudo alagado, a cidade por baixo, o cidadão afogado... Tanta água, tantas gotas, lágrimas... que fossem remédio. Que homeopáticos! Que não tenho pressa se souber que vai funcionar... que Cura...

Ali na fila novamente, tão brasileiro, esperando, esperando, esperando... Pagando e fazendo a fezinha, acreditando... E acredito! Estou novamente na fila amiga, fazendo graça! Porque na fila tudo passa e vai passar essa corriola que nos desgraça, basta essa criança Brasil, crescer, largar a chupeta, deixar de mamar e parar de fazer pirraça!

Cassio Poeta Veloz
Enviado por Cassio Poeta Veloz em 08/03/2016
Reeditado em 14/09/2023
Código do texto: T5567709
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