RAFAEL SADDI E O Ó DAS OSs
 


 

O prédio da Secretaria de Educação do Estado de Goiás foi ocupado por estudantes que se opõem ao processo, já fracassado no campo da saúde, de implantação das tais "Organizações Sociais" (OSs) no campo da educação pública de Goiás. É o "terceiro setor", segundo o eufemismo falacioso do governo. A polícia foi escalada para desocupar a Secretaria, como já estava fazendo nas escolas também ocupadas. Mas para provar suas boas intenções a polícia procurou o Professor Rafael Saddi, por ser ele pessoa atuante nos movimentos sociais e com fluência entre os estudantes: ele seria um "observador" de que não haveria "excessos" por parte da polícia. Rafael Saddi é professor de Ensino de História na Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás. Autor, com sua dissertação de mestrado e com a tese de doutorado, de dois importantes trabalhos sobre Cuba: um analisando a retórica carismática de Fidel Castro no início de seu governo e a tese discutindo a mística do discurso do "Movimento 26 de Julho" que encaminhou o movimento revolucionário de 1956 a 1959. Atuou ativamente junto ao movimento de catadores de papel de Goiânia. E também é rockeiro, com sua banda Señores em parceira com seu irmão. Saddi aceitou a incumbência, pois se preocupava com o que poderia ocorrer com os estudantes, que já estavam levando surras nas delegacias sob a acusação de "vandalismo". Assim acompanhou a polícia até a Secretária de Educação. Chegando lá a polícia começou a agir. Uma das primeiras coisas que fez foi dar voz de prisão ao próprio Professor "observador"! Saddi então "observou" com sua prisão a polícia sem nenhuma truculência! O mesmo ocorreu com muitos ocupantes. Saddi ficou preso. Mas recusou cela especial, preferindo ficar na cela dos estudantes, para protegê-los. O fato repercutiu no mundo acadêmico e nos movimentos sociais, mas na imprensa nem tanto. Essa estava preocupada em mostrar  estudantes com cara de "emaconhados" e em denunciar o "vandalismo" praticado pelos estudantes em locais já vandalizados pelo poder público (o Colégio José Carlos de Almeida na rua 3 nem funcionava mais e no Liceu de Goiânia as janelas são lugares antes ocupados por vidros). O reitor da Universidade foi obrigado pelos estudantes a prestar solidariedade a Saddi na cadeia. Ficando preso com os estudantes, de fato a prisão de Saddi e sua repercussão impediu que a polícia esculachasse os estudantes, como já tinha feito em outras ocasiões. A Polícia de Goiás está cada vez mais desqualificada para fazer preservação da lei, pois se considera acima dela. E é bom lembrar que a polícia é mero aparelho do poder político. O "império da lei" surgiu lá no século XVIII para também coibir o arbítrio das "autoridades": elas não podem fazer o que bem entendem. Quando o que ocorreu com Rafael Saddi acontece, atenta-se mais contra a lei do que a ação dos criminosos. Pois criminoso é criminoso porque não cumpre o prescrito e pontificado na lei. Mas o "crime" cometido pela polícia, nesse caso uma prisão arbitrária", entra na conta de ação policial em nome da preservação da lei. Se é assim, como levar a lei a sério? Mas Rafael Saddi não balança a cabeça dizendo sim, apesar de seu punk-rock.