Em boa companhia

Acredito que o casamento muda muito uma pessoa. É na convivência com o seu cônjuge que você descobre o que há de melhor e de pior em você. Relacionamento muda a pessoa. Seja com quem for, cônjuge, mãe, pai, irmã, amigos. Ninguém escapa de uma transformação quando falamos de convivência.

Dentre as grandes coisas que descobri ao casar foi o quanto preciso estar conectada comigo mesma e isso inclui ter tempo para mim. Não sei ao certo se isso veio com o casamento, mas certamente, só me dei conta disso depois que casei.

Amo a ideia do casamento. O companherismo, ter alguém para conversar e até brigar é muito gostoso, mas percebo que o casamento, o compromisso, a vida, tende, diversas vezes, nos roubar de nós mesmos. As preocupações em agradar o outro, em estar sempre presente, as contas de água, de luz, de internet, nos roubam do prazer de sermos e de vivermos a vida que temos, que por sinal, só é uma.

Certa sexta-feira, meu marido saiu para fazer uma programação de seu gosto. Eu não compartilho do meu hobby, então fiquei em casa. Lembro que nesse dia tomei um banho bem demorado do tipo "Meu Deus, há quanto tempo não faço isso?", e depois, sentei no sofá, despretenciosamente, e passeei pelo Netflix à procura de um filme francês que me entusiasmasse (dificilmente, assisto a filmes franceses com o meu esposo). Passei a noite da sexta-feira sentada no sofá assistindo "L'arnacoeure" e me senti uma mulher feliz. Foi então que o meu marido chegou e me tornei ainda mais feliz ao perceber o quanto ele também estava contente em ter aproveitado um tempo para ele.

Estou falando de casamento porque foi dele que parti a minha reflexão sobre o tema, mas não importa se você é casado ou solteiro, ter um tempo para se conectar com você mesmo é mais do que saudável, é fundamental. Fico pasma em ouvir pessoas dizerem que têm dificuldades em ficar sozinhas. Relatam até que sentem uma agonia, uma aflição em olhar para as paredes e perceberem que não estão na presença de alguém.

Dessa forma, fiquei pensando nas vantagens de aproveitar um tempo sozinho. Lembrando que ficar sozinho não é sinônimo de ser solitário. Se você se sente solitário, sente mesmo em meio à multidão.

Quando você fica sozinho, você pode fazer inúmeras coisas que, normalmente, você pensa duas vezes antes de fazer na presença de outra pessoa. Veja o que me veio à mente:

- Você pode fazer o que quiser, até algo que considere bobo, sem ter alguém para dizer "Melhor irmos à praia", "Prefiro romance", "Prefiro cinema", e assim por diante;

- Se você decidir ficar em casa ao invés de sair, não precisa estar o tempo todo arrumado. Se quiser passar o dia de pijamas e descabelado, não tem problema;

- Você pode assistir ao que você quiser, desde um filme de arte aos Bananas de Pijamas. Não tem ninguém para te julgar;

- Você pode ouvir a música que quiser, Bossa Nova, Axé, Forró, Black Music, Pagode, Música Clássica, Cantos Gregorianos ou até a sua própria voz no karaokê. O que VOCÊ quiser!

- Você pode andar pela cidade e decidir o seu roteiro, "eu vou primeiro ao shopping, depois ao teatro, e depois, plantar bananeira";

- E nos seus passeios você pode decidir com que condução você irá, se de ônibus, de trem, de bicicleta, de jegue. VOCÊ decide!

- Você pode ir a lugares que nem sempre pode ir com os seus amigos porque eles não curtem a vibe. Pode ir a uma livraria e ficar sentado folheando livros até não aguentar mais, pode ir a um café e ler um livro se sentindo intelectual ou pode, simplesmente, sentar em uma praça e observar os transeuntes;

- Você pode fazer um spa em casa e pegar aqueles 300 esmaltes que você tem e pintar uma unha de cada cor, Morena Flor, Gatinha Manhosa, Dara, Sedução, e depois apagar tudo e disfarçar com um Renda para ninguém perceber que você é louca;

- Se chover e isso te impedir de sair de casa, você pode ler um bom livro na cama, ou ainda, colocar a sua roupa de mendigo e ir tomar banho de chuva. Não importa. VOCÊ decide!;

- Você pode também usar o tempo que está sozinho para meditar, refletir sobre a sua vida, seus planos, seus amores, suas paixões, ouvir a sua própria voz;

- Você também pode chorar, lamentar, sem ninguém perguntar "O que foi?" ou fazer aqueles comentários que dá mais vontade de chorar. Você pode chorar sem ter que disfarçar os olhos e o nariz vermelho;

- Você pode fazer o que quiser, até mesmo nada disso que citei acima. VOCÊ decide!

Não importa o que você faz quando está sozinho. O que importa é tirar um tempo para se conectar com você mesmo. A vida não se faz sem as pessoas, mas também não se constrói apenas na presença delas.

Ignorando os erros de português no texto aqui escrito, quero dizer que eu aprendi o valor de ter um tempo para mim, a amar a minha companhia, a conversar comigo mesma, a rir das minhas bobagens e a contemplar as minhas dores que somente eu compreendo. Isso não é solidão, é desfrutar da primeira melhor companhia que alguém pode ter. Isso nos ajuda a amar mais as pessoas ao nosso redor, porque não importa se elas estão perto ou estão longe, você sempre estará em boa companhia.

*Dedicado a Neilane, Tarsila e a todas as amigas que descobriram o valor da sua própria companhia ou estão nesse processo de descobrimento.