O Sábio da Montanha*



Ele viveu muitos anos entre seus semelhantes, conheceu as angústias humanas, sofreu e muitas vezes sorriu, mas para colocar-se a salvo dos tormentos do cotidiano, e também, para demonstrar seu amor à vida... Vida que lhe infligiu dores pungentes. A todas, como fênix que renasce das cinzas, enfrentou com altruísmo. Um heroi popular. Não se envergonhava de sua condição material precária. Não tinha medo do trabalho, pois para ele, todo trabalho era digno. Era de uma humildade quase ofensiva. Se alguém se irritava, acusando-o de subserviência, ele pedia calma e pacientemente falava de concepções e opções. Não, nunca pretendeu ser santo e algumas vezes agiu como se tivesse perdido o juízo. Esmurrou mesa, chutou objetos, socou o vento, esbravejou... Como após o vendaval vem a bonança, arrependia-se e chorava copiosamente. Era um homem de coração puro e generoso.
     Um certo dia tomou a decisão, que mudaria o rumo de sua vida. Juntou algumas peças de roupa, provisão de alimentos, uma barraca para proteger-se das intempéries e partiu para a montanha. Viveu em harmonia com a natureza durante quatro anos, oito meses e treze dias. Ao retornar, foi recebido com alegria pelas pessoas que o amavam. Desde então passou a ser conhecido como o sábio da montanha, pois sabia resolver na paz os conflitos da comunidade e para cada um tinha uma palavra de amor. Agora era um homem em paz verdadeira consigo, com a vida.



Este texto é uma singela homenagem ao Sô Lalá - irmão, amigo, mecenas e parceiro de letras. 


J Estanislau Filho

Imagem: JEF - Sô Lalá e Dona Helena visitando o Alambique - Bichinho - MG - Procurei uma imagem de você nas montanhas de Cuzco, mas não encontrei. O sábio da montanha nasceu de um passeio em São João do Oriente-MG em minha companhia e do sobrinho João Batista em que falávamos de política, futebol, religião e ontologia. E muita fofoca...