CARNAVAL

Uma das estranhezas da burguesia cabocla é o falso moralismo com que trata em primeiro lugar festas populares, em segundo lugar o ar de religiosidade que emprega para julgar e definir assuntos da alçada sensual, que as camadas desfavorecidas utilizam na antropofágica absorção da ideologia dominante. O carnaval, modernamente, é a moeda de troca entre pobres espertos e ricos otários, os primeiros ávidos pelos recursos dos segundos, que loucos por fama, poder e prestígio, investem nos primeiros. Este triângulo entre criatividade popular, Estado e personalismo, é a tônica da manifestação que mantém sedada a população desconectada das vanguardas intelectuais, na abertura da temporada de eventos que silenciam a maioria social à custa de sexo, drogas, ritmos neo-tribais (ou pseudo-alguma coisa).