NA COMPANHIA DA MORTE
Dessa vez ela chegou as duas da madrugada.
Usava um vestido longo azul marinho escuro.
O que a fazia ficar mais encantada era o capuz brilhando
sob a luz a lua que lhe dava um maior brilho quando andava.
Ela carregava as mãos um vaso de flores azuladas.
O vaso era confeccionado de vidro azul fosco.
Observei-a colocar o vaso sobre a mesa da minha sala.
_ Estas flores são para você meu escritor amado.
A voz de "Mora Tis Mortis" estava carregada de emoção.
_ Fico lisonjeado.
Falei quebrando o meu silêncio.
_ Você nunca para de escrever?
"Mora Tis Mortis" fez a pergunta e continuou a dizer:
_ Desde o nosso último encontro senti saudades...
Nos olhos da morte havia um brilho que me fez pensar em seus beijos.
_ Você acredita em destino amado escritor?
_ Acredito em predestinação.
Ao acabar de falar contemplei o olhar profundo da morte.
_ Isso já é alguma coisa...
Ouvi dela a resposta e senti um frio gelar minha espinha.
Um vento mais gélido ainda penetrou pela fresta da janela
e rapidamente percorreu todo ambiente dentro da sala.
A presença da morte era capaz de paralisar minha alma.
Enxerguei a morte como uma mulher segura de si.
_ Meu querido escritor sabe do que gosto em ti?
Fiz um sinal negativo com a cabeça.
_ Gosto da forma como você me descrevi.
_ A humanidade relata sempre que sou uma presença vil.
_Comenta que meu hálito mata a distancia...
_ Todo mundo tem as suas tolices.
Quando acabei de falar a morte me devolveu um sorriso
onde novamente observei seus belos dentes brancos.
_ Você é singular entre os mortais que conheci.
Aquela resposta de "Mora Tis Mortis" causou-me surpresa.
O relógio da parede marcava agora quatro da madrugada.
Algumas horas na presença da morte meu corpo eletrizava.
Do vaso de flores azuis emanava um perfume.
Entorpeceu os meus sentidos e quase beijei a morte.
Que coisa estranha!
Exclamei em pensamento.
_ Nos dias em que permaneci ausente daqui escritor amado,
pensei muito no destino traçado para nós...
_ Como assim?
Eu estava dialogando com a morte.
_ Todos os dias, horas, minutos e momentos é necessário
eu cumprir o papel de levar alguém para a eternidade...
_ Cansei do meu destino escritor amado e não pretendo
contemplá-lo morto e se decompondo...
_ A tarefa que a ti foi imposta não há como mudar...
Dei a resposta e ouvi a morte responder:
_ Eu também possuo o livre arbítrio...
_ O primeiro casal escolheu errado...
_ Eu posso escolher o que é certo.
Aquelas palavras ditas pela morte soaram como um mistério.
Não senti que as horas haviam escoado.
O dia começava a clarear.
"Mora Tis Mortis" deu-me um beijo frio nos lábios.
Repentinamente foi sumindo como fumaça.
( J C L I S )
"ONTEM ESCREVI ESSA CRÔNICA .
INICIEI 20:40 HORAS E TERMINEI 21:34 HORAS"