O TESOURO E A JUSTIÇA. E A POBREZA?

O *TESOURO E A JUSTIÇA. AS INDGAÇÕES. E A POBREZA?

De um lado o tesouro, do outro, a justiça:, e a pobreza?...Estamos a caminhar pela rua do Imperador no centro da cidade do Recife; as festas de final de ano estão a mudar o cenário das ruas. As pessoas, num azáfama enlouquecedora, cruzam céleres umas as outras em busca do abstrato, do ilusório, do consumismo; todas elas voltadas para dentro de si mesmas. É assim todo final de ano...

Matutamos, então, sobre os desencontros e os conflitos da vida, apesar de esta ser bela e única e sofrer, aqui e acolá, incidência na cor cinzenta a substituir, momentaneamente, o colorido natural legado pelo criador. Lembramos, entre outros fatos, a atual fase econômica por nos vivida, a ocupar diuturnamente o pensamento.

De um lado o tesouro; do outro, a justiça; e a pobreza? Continuamos a caminhada; todas essas nuances nos acometem e permeiam o nosso lado humano, eivado de imperfeição, de egoísmos, de indiferenças. Há momentos em que nos interrogamos intimamente se valeu a pena tanta luta, tanto esforço de nossa parte, em nos cumular de valores para um mundo melhor, com honestidade, esforço esmerado em ver florescer um mundo justo, no qual cada um tivesse direito a seu justo quinhão. Mas prevalece, sempre, a concreta realidade, pois esta sempre colide com os sonhos...

De um lado, o tesouro, do outro a justiça; e a pobreza?..Esses devaneios nos acodem permanentemente, é bom ressaltar. Entregamo-nos a eles ao observar o dia a dia da sociedade e verificar, a rigor, os problemas enfrentados pela pessoas mais necessitadas terem pouco melhorado. Constatamos, ainda, ter havido, apenas, a mudança e a transposição de épocas. O que ocorria com os necessitados de forma degradante há sessenta anos, hoje está a se repetir com igual intensidade e dramaticidade, com as mesmas carências e pequenas variações. Contrariando, portanto, o filosofo Karl Marx, para o qual o qual "a história primeiro acontece como tragédia. Depois se repete como farsa".

Cabe um questionamento: o mais pobre, o miserável de tempos idos em cotejo com o de agora ostentaria alguma diferença? Que nada... A miséria é atemporal, única, não tem sinônimo, não tem cronologia, não tem pátria, é igual em toda parte do mundo, é multinacional, multifacetada, multitudinária...

De um lado a a justiça, do outro o tesouro; e a pobreza?.. Passamos quase todas as tardes entre a Secretaria da Fazenda (Tesouro), e o Palácio da Justiça e quase sem o perceber vislumbramos, cotejamos e dimensionamos a miséria incidente entre os dois prédios. Por ironia um pratica a justiça, cega, implacável, sem tangenciar nem olhar classe social, classe racial...(sic) O outro é depositário do dinheiro arrecadado, fruto dos impostos a nós cobrado para posterior devolução em forma de ações sociais pelo governo...

No exato momento em que ruminamos esses pensamentos, olhamos no entorno e vemos alguns moradores de rua a preparar suas improvisadas e toscas moradias na calçada do Tesouro. Utensilios compostos de papelão e alguns trapos para acalentar mais uma jornada noturna. Ao relento, a mercê dos perigos da madrugada, sob a iminente violência fruto do atual estagio sócio/criminal em nossa cidade. Dormirão tranqüilos? Lógico que não... Os exemplos no noticiário aí estão ai pra mostrar e evidenciar a presunção de perigo.

Vejam quanto paradoxo: de um lado a justiça; do outro, o tesouro, - a Fazenda,- intercalado por pessoas sem o essencial para sobreviver... Estão a necessitar de ambos: Do tesouro, por inexistir por parte do estado uma política sócio/trabalhista que os socorra, pelos menos que os abrigue durante à noite... Da justiça por esta assistir alheia, com a indiferença dos privilegiados, tal qual a frieza do concreto armado, o drama e a injustiça da miséria humana....

De um lado a justiça, do outro o tesouro; e a pobreza?...Os transeuntes, entre os quais nos incluÍmos, passam absortos. Não é de se estranhar essa indiferença humana; está calejada por anos de uma atávica civilização que ainda não se impacta por ver seres humanos, famintos, a dormir nas ruas, sujeito a chuva, a ser molestadas por insetos noturnos, e o pior: pelo ser humano feroz, intolerante.

A indagação ensimesmada e perplexa: mas, essa gente aí a passar, absorta e indiferente, não é aquela mesma crente num Deus onisciente, onipresente, onipotente...? Vai à missa aos domingos, confessam seus pecados e num momento de contrição e catarse de lá saem purificadas?...Talvez façam e até teorizem promessas, de ajudar o próximo. Em vão... Essas interrogações se reforçam na aproximação de mais um final de ano. Serão hipócritas sazonais? Junto a “patéticos peregrinos” repetirão à exaustão aquele ritual vazio, oco, sem conteúdo , augurando manjados e vagos desejos de um UM NATAL feliz e um ANO NOVO promissor.

Infelizmente essa manifestação se perderá no tempo e no espaço, pois são gestos abstratos, desprovidos de concretude e sinceridade. E tudo isso feito em detrimento do aniversariante do mês, Jesus de Nazaré, agora ofuscado indevidamente por um cidadão rechonchudo e vermelho vindo de plaga nórdica,vestido de igual cor, saco ás costas repleto de ilusão. O filho de Deus se contrai e, num esgar, se resigna por se ver usurpado e preterido, substituído por aquele estrangeiro exótico, sob o alheamento da maioria dos cristãos ao longo do mês de sua data natalícia. Inversão de papel, e intromissão indevida não é verdade?

Ao termino do mês e começo do outro, tudo voltará à costumeira indiferença dos mortais; e no restante do ano, a justiça de um lado e o tesouro do outro; e a pobreza, também, continuarão inalteráveis, para igual ritual recomeçar no final do ano que ora se inicia. A ciranda da vida continuará sua dança sincopada, e a POBREZA, O TESOURO, A JUSTIÇA, AS INDAGAÇÕES, esta sem respostas, seguirão no mesmo diapasão, indiferentes, pois nenhuma destas sofrerá solução de continuidade em seu statu quo!. Restaria de nossa parte só o inconformismo, a resignação, acreditar num determinismo implacável apenas? Recife, 25 de novembro de 2015-11-16 *Tesouro. Outrora era assim chamada a, hoje, Secretaria da Fazenda em Pernambuco.

ANTONIO FRANÇA

ANTONIO FRANÇA
Enviado por ANTONIO FRANÇA em 23/01/2016
Reeditado em 04/10/2018
Código do texto: T5520568
Classificação de conteúdo: seguro