Castanhas de amor

Lá no sítio do seu pai há vários cajueiros...

Fico me lembrando da história rala que me contaste e tento imaginar nessa minha cabecinha os detalhes, como foi todo o processo desse ato de amor para comigo.

Você chegou no interior, na casa de seus pais; caminhou por aqueles imensos hectares de terra com gado, plantações e pés de cajueiros.

Foi aí que ele sentou em baixo de um, respirou aquele ar puro do Campo que estava com saudade. Sua etnia gritava por aquele ambiente. Foi ai que viu vários cajus, alguns nem estavam em época para colher, estavam "de vez" como ele diz! Risos.

Foi então que começou a olhar para tudo aquilo imenso à sua volta e se sentiu sozinho, faltava algo, olhava a cor marrom das castanhas e...

"lembrava da minha neguinha, ela gosta tanto de castanhas..."

Aí vc pensou: "amanhã bem cedo vou colher esses cajus e tirar as castanhas pra minha pretinha!"

Ao amanhecer levantou-se e foi ao Campo. Chegou perto dos pés de cajueiros e começou a tirar os cajus, sua prima veio perguntou: - Vai fazer suco para um batalhão?

E ele responde: - Não. Eu vou assar castanhas pra ela.

E ela retrucou: - E o que vai fazer com tantos cajus?

Ele impaciente respondeu: - Deixe comigo.

Sua prima saiu então ele continuou sua colheita, estava determinado.

Na hora do almoço pediu para sua mãe levar "o cumer" ele não queria parar. Engoliu e voltou ao árduo trabalho. E o mais incrível que tudo com amor, gostando daquele cansaço. Ele sabia que valeria a pena!

Finalmente colheu uma quantidade adequada para puder assar. Aí foi separar as castanhas do caju. Colocou-as no Sol e pegou os baldes de cajus e voltou para a casa.

Chegando lá sua mãe disse: - porque tantos cajus? Ele disse: - Enquanto tiver aqui vamos tomar bastante suco de caju e vou pedir a tia pra fazer doce. Sua mãe não entendeu bem mas aceitou.

Foi aí que à tardinha voltou para onde deixou as castanhas, fez um fogão de tijolos e colocou as castanhas numa grande frigideira. E elas começaram a grudar, faziam 8 anos que ele não fazia isso.

Começou a subir aquele cheiro gostoso, e era o natural das coisas por isso cheirava tão doce!

A fumaça subia e junto com ela, seus dedos pretos ficavam, o calor daquilo queimava sua pele mas ele não se importava. Como todo índio, é um guerreiro e sofreu até o fim de todo preparo. Com uma colher grande de madeira na mão mexia o produto do seu amor.

Então já anoitecia e ficou apenas no chão as cinzas do carvão e dentro daquela grande frigideira as castanhas que brilhavam naturalmente, aromáticas de paixão.

Eu porém sem saber de nada, aqui do outro lado da terrinha, cheia de saudade daqueles dentes brancos de Juá e daquela voz pesada de sotaque interiorano!

É ai que ele chega, com um pote de sorvete velho na mão. Eu, como todo jovem que se preza, lembrei dos depósitos da minha mãe na geladeira e perguntei a ele: - É feijão?

Ele sorriu e disse: - É tão forte quanto.

E eu fui abrir mas ele não deixou, e falou: - abra só em casa deixa eu amarrar essa sacola!

Sorrimos juntos.

Começamos a conversar, nos abraçamos ( até o momento é o contato que podemos) e nos admiramos muito. Ele clareou minha mente em muitas coisas e eu tentei explica-lo certos comportamentos humanos que precisamos compreender mesmo sem entender.

Chegou minha hora, me levantei e fui surpreendida por outro abraço! Forte, gostoso, demorado e enlaçador ganhei o melhor e temível cheiro no cangote! Risos...

O seu olhar pedinte me fez voltar e segurar na sua mão. Nossa me sinto criança de novo! Que sensação Boa!

Peguei o ônibus. Assim que sentei fui abrir o depósito, parecia presente de Natal no dia 24. Quando abri subiu à mim um cheiro doce e amanteigado, o cheiro da paixão, da conquista, do encantamento, o cheiro das minhas viagens de sábado à tarde!

Eram belas castanhas. Como amo castanhas! Eu até comentei mas não imaginava que aquele índio espertinho levaria a sério... Junto com elas tinha uns chocolates de uma marca conhecida que gosto, mas sinceramente? Nem liguei o que me importava era aquilo tão natural, sequinho, tostadinho! Meus olhos sorriem é choram ao mesmo tempo é algo que não saberia na hora explicar mas doeu à me lembrar do processo de preparo das castanhas que ele havia me falado um tempo atrás, o mais incrível é que tinha certeza que ele que tinha feito com suas próprias mãos ! Na nossa conversa na praça eu percebi as pontas de seus dedos pretas e grossas mas não quis perguntar. Agora eu sei porque é. (Hoje entendo que certas coisas são subtendidas ou serão explicadas no futuro.)

Quando cheguei em casa olhei o celular e tinha uma mensagem dele: - Gostou das castanhas, ficaram umas queimadas mas espero que goste eu fiz só pra vc!

Gente, que coisa linda esse indiozinho! Como posso suportar tanta fofura e carinho...?

Aí eu o respondi: - Quer me ganhar no estômago? E ele sorriu e disse: - você não tem jeito! E eu continuei: - obrigada, foi uma sensação maravilhosa que não sentia há muitos anos... você acabou de entrar para minha história! E ele disse: - Fico feliz! Essa é a intenção entrar pra lhe fazer feliz, faltou so uma coisa. Ai eu: - O quê? Ele respondeu: - O beijo! Daí eu sorri e respondi: verdade, mas tenha paciência falta pouco! E ele disse: até o altar? Verdade muito pouco! Me aguarde também!

Então sorrimos e continuamos conversando.

Foi então que percebi que estou a quinze dias de algo maravilhoso acontecer comigo. Com ele. Conosco!...

Judy Cavalcante
Enviado por Judy Cavalcante em 21/01/2016
Reeditado em 21/01/2016
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