CLOROFILA

 

 
2015 terminou com uma reclamação geral em relação à falta de chuva. Aí veio 2016, e o ano começou encharcado. Choveu todos os dias. Choveu, choveu, choveu que a antiga reclamação cessou. Em mim choveu que meu cérebro virou lama. Meus ossos começaram a derreter. O que era lágrima virou nada diante tanta enxurrada. Tinha goteira até dentro da geladeira. Líquens e musgos proliferam pelas paredes, muros e caules de árvores, misturando briófitas, algas e fungos. Os cachorros ficaram num canto embolados, com orelhas e rabos em amuo. Lá fora da cidade, a soja de tanto esverdejar já está com vontade de amarelar. Mas hoje é dia de São Sebastião, e como todo guerreiro ele quis trégua. Pintou lá fora, nesse final de tarde, do sol uma nesga. Um fiapo amarelo no meio de um dia cinza. Agora mesmo fui até lá me expor às forças heliotrópicas, sintetizar alguma clorofila. Estou verde para o resto do mês. Não preciso que janeiro acabe em veranico. Mas o mundo não é o que eu preciso.


Goiânia, 20 de janeiro de 2016.