Meu vestido de noiva

Quando eu me casei pela primeira vez, tinha 19 anos. Na verdade, não casei: fui casada. Não foi “à força”, mas foi quase, pois as circunstâncias (uma gravidez não planejada) fizeram com que meus pais arranjassem o casamento o mais rápido possível. Tudo aconteceu muito rápido. Aliás, quase não lembro muito de nada, a não ser da imensa culpa que me consumia por estar fazendo meus pais gastarem tanto dinheiro comigo, por um “erro” meu. Eu estava no meu primeiro emprego, meu ex-marido tinha acabado de dar baixa do exército. Éramos pouco mais que adolescentes... Tenho isso muito claro em minha mente: a vergonha de ter que me casar às pressas, sem ter um centavo pra comprar nada, meu pai bancando tudo. Essa culpa/vergonha fez com que eu não participasse de nada. Minha mãe decidiu tudo. Escolhi o vestido mais barato da loja. Eu mesma fiz minha maquiagem e meu cabelo. Aprontei-me cedo e fiquei sentada na sala assistindo televisão. Cheguei à igreja antes do noivo e fiquei sentada no carro esperando por ele.

Esse período é muito confuso na minha cabeça. Um turbilhão de emoções: meu primeiro amor, a perda da virgindade com um homem-menino, extremamente ciumento, a gravidez não planejada por conta da descoberta dos prazeres do sexo, a vergonha de ter que contar aos meus pais, o casamento corrido, o nascimento do meu filho, eu só um pouco menos criança que ele, o dia-a-dia de uma menina que precisou virar mulher da noite pro dia, para dar conta de uma casa, trabalho, dois filhos (porque meu ex-marido era tão imaturo que me dava mais trabalho que meu filho mesmo), enfim, muitas coisas. Acho que amadureci uns 20 anos em 2... Depois veio o outro filho, que hoje mora no outro plano, a separação, outro furacão na minha vida... Mas essa é outra história! Esse texto é sobre casar!

Quando meu atual marido, com quem eu já vivia há quase 6 anos, falou pra gente se casar, eu disse logo: se é pra casar, então quero com festa e tudo o que eu tenho direito! Ele queria casar só legalmente, mas eu queria tudo o que me foi negado, por mim mesma, há tantos anos... E então eu curti. Curti planejar cada detalhe. Escolher lembrancinhas, músicas, noivinhos personalizados para o bolo, marca de champanhe, decidir que meu filho e minha enteada seriam os celebrantes, fazer o roteiro (que todo mundo elogiou), convencer meu marido a fazer aulas de dança, elaborar a lista de convidados, tudo, tudo, tudo, tudo me deixava flutuando. Eu vivi uma época de muito trabalho e aperto, pois não tinha muito dinheiro. No dia do casamento, a cerimonialista ficou louca comigo, porque eu não queria massagem nos pés, não queria ser paparicada, queria curtir! A maquiadora preparou meu cabelo e, enquanto ela maquiava e penteava minha enteada, eu estava sentada no chão, terminando de fazer uns enfeites de última hora, para desespero das assistentes da cerimonialista. Eu estava me divertindo muito, antes mesmo do casamento começar!

Mas, hoje, quase 1 ano depois, olhando pra trás, a emoção mais forte que me vem à cabeça é a da escolha e as provas do vestido. Não sei explicar. Não sei que fascínio existe por trás de um vestido de noiva, que, no meu caso, já com 54 anos, nem era um vestido com véu e grinalda, mas um vestido simples. Simplesmente lindo! Amei aquele vestido no momento em que pus meus olhos nele! Senti-me linda dentro dele! LINDA! Não importava a minha idade, as rugas, as olheiras, as gordurinhas que tentei perder sem sucesso até o dia do casamento! Eu me sentia linda e ponto final! Cada vez que ia à loja prová-lo, ficava com dó de não levá-lo comigo...

Por fim, no dia do casamento, pude vesti-lo, devidamente maquiada e penteada, com o sapato lindo e o buquê maravilhoso e me senti uma princesa. Uma adolescente em sua festa de debutante. E eu entrei dançando, porque eu estava muito feliz! Meu vestido fez essa mágica em mim! Minha vontade era ter dado umas cambalhotas, de tão eufórica que eu estava! Ainda bem que me segurei... rsrs

O que será que existe por trás desse simbolismo? Não sei e não quero saber. Só sei que minha festa de casamento não teria sido tão boa se eu não tivesse, simplesmente, achado o vestido certo. Não importa se foi alugado: aquele era e será, para sempre, o MEU vestido de noiva!
Rosa Pinho
Enviado por Rosa Pinho em 05/01/2016
Código do texto: T5500665
Classificação de conteúdo: seguro