__________Ressurgir da Cova

 
Bobagem negar! Há coisas que a gente nunca admite que vão  acontecer. Quem é que ao entrar num avião fica pensando que ele vai cair?  Basta ver que ninguém liga para as instruções dos comissários de bordo  quando orientam os usuários sobre como agir em casos de emergência. É tanta recomendação que se o passageiro pensar bem até sai correndo e desiste de voar.  Então ele prefere não pensar, e o desinteresse demonstrado é tanto que as belas e os belos (e elegantíssimos) comissários custam a disfarçar um bocejo, enquanto mecanicamente repetem os rituais de segurança, antes de cada decolagem.

Pois muito bem! Em caso de pane ou de o avião cair todos saberão realmente como proceder? Os equipamentos de salvamento serão utilizados corretamente? Quem é,  pelo amor de Deus, que conta com a possibilidade de ver-se afogando em alto-mar quando tudo que planejou foi estar em alto-ar? A verdade é que ninguém acredita seriamente que o avião poderá cair quando, no maior conforto, se aboleta em suas poltronas e se prepara para ir às nuvens. E ele pode! Ele pode cair! Tantos não estão caindo?

Muitas outras coisas a gente deixa de lado por não crer que são passíveis de acontecer. É um erro. Ainda bem que sempre há quem pense em tudo enquanto outros não pensam em nada. Vi, por exemplo, uma matéria dando dicas de como o sujeito deve se portar caso seja enterrado vivo. E quem é que pensa que pode ser enterrado vivo? Ninguém pensa, mas todo mundo está sujeito. No próprio Blog explicaram que isso está cada vez mais comum. Depois dos argumentos que li, me convenci: é sempre bom estar preparado, nos dias atuais então, nem se fala...

Atenção! O primeiro conselho é controlar a respiração, não gritar, nem entrar em pânico, o que, se a pessoa conseguir, já é um feito heróico. Afinal ninguém tem tanta familiaridade assim com o submundo dos sete palmos. Consola, porém, saber que o enterrado vivo tem à disposição, duas horas de oxigênio dentro da urna. Difícil é poder controlar esse tempo, pois provavelmente a pessoa não terá um relógio às mãos em tão funestas circunstâncias.

O segundo passo é tentar soltar a tampa do caixão com as mãos.  Dizem também que vale usar objetos como um anel de casamento ou uma fivela do cinto para fazer um buraco na tampa. Resta torcer para que justo naquele dia a pessoa não tenha perdido o anel ou o tenha retirado de propósito a fim de viver uma aventura do tipo “tô na pista”... Pois é, quem mandou? (em tempo: estes recursos são para caixões baratinhos, com os mais resistentes é capaz de não dar certo. Não adianta nem tentar).

Para quem já está claustrofóbico (eu fiquei só de ler a matéria) ainda há uma boa jornada pela frente. Vencida a etapa de furar o caixão, há  que se desvestir a blusa (ou camisa) e usá-la para proteger a cabeça contra a terrarada que, segundo as Leis da Física, tenderá a descer em avalanche para dentro do malfadado ataúde. E aí, como é que fica? Se a situação já não está fácil, que dirá dar conta de uma pá carregadeira despejando sobre si, o pó que lhe quer comer, mas você não quer deixar.  Difícil? Nem! Em caso de vida ou morte, literalmente, a palavra difícil não existe. É uma questão de sobrevivência.

 Preparado? Ótimo! Então se a cabeça já estiver protegida, tente ir se sentando, para a terra ir ocupando seu lugar. Em seguida, vá se levantando e ressuscitando aos poucos. Ah, dizem as instruções que terras de sepulturas costumam ser fofas, mas se coincidir com dia chuvoso, aí é preciso uma calma maior que a já exercitada: a coisa tende a se complicar um pouco mais, uma vez que a terra molhada é mais visguenta, densa e pesada. Na verdade, vamos ser mais claros, é barro puro.

Como se vê não é tão fácil assim ser enterrado vivo e ressurgir da cova. Mas vale muito a pena tentar. Moral da história: nunca despreze instruções, por mais bizarras que estas lhe possam parecer: você nunca sabe quando irá precisar delas...