Luzia e Agenor

Luzia não aguentava mais: Agenor era um brutamonte. Que homem mais sem linha! Depois de vinte anos juntos ela tinha chegado ao seu limite. Que sujeito grosso, sem trato, sem educação!

Agenor, não tirava os sapatos pra entrar em casa. Comia fazendo barulho. Ah, ela odiava aquele barulho da mordida na maçã. Aliás, a cena mais odiosa que guardava era aquela: ele estatelado no sofá, sem camisa, de bermuda furada, assistindo futebol e roendo uma maçã (arghhh!!! Literalmente ele roía!)

O marido era um porco insuportável! Não tirava a graxa das unhas, tinha pelos a sair pelas narinas, cabelos oleosos, mania de meia furada, a barriga saliente se debruçando sobre o cós da calça: era a cerveja, a maldita cerveja que ele não largava. Luzia tinha ânsias com o cheiro de cana podre que ele transpirava. Tá certo que não ficava bêbado, mas só aquele cheiro hediondo já dava e sobrava...

Agenor roncava! Além de ocupar 70%  da área do colchão com seu corpanzil, ele roncava. E tinha sono pesado. Era cair na cama, já o fazia dormindo. Dali para o estrondo da britadeira varar as portas e chegar à sala onde ela via a novela, era batata! Tinha dias que aumentava o volume da TV; noutros, ia até o quarto e o enchia de sopapos que ele, dormindo, nem se dava conta. Ah, Agenor era a tão propagada mala sem alça! Que vida era aquela?

O mecânico era um dos melhores da cidade. Não lhe faltava serviço, aliás, até sobrava. Ele não sabia era gastar. Enquanto a mulher queria melhorar a casa, trocar o carro, ele queria passear. Tinha sonhos de sair pelo Brasil afora conhecendo os rincões do território nacional. Os carrões que arrumava em sua oficina não o seduziam, mas os lugares  a que poderiam levá-lo, ah, estes sim. Um dia ainda ia conhecer mundo, ver as coisas, era um curioso.

Luzia tinha tomado preguiça do marido. Não o tolerava mais, fazia tempo. Logo, logo ia falar na separação. Ia dar um passa-fora naquele tosco! Ah, ele agora dera pra ficar bruto que nem uma porta. Por qualquer coisa soltava os cachorros, e na última briga chegaram a trocar uns tapas. A coisa ia mesmo de mal a pior. O danado é que ele não ia querer sair de casa. Era rusguento feito galo de briga marcando território.

E pra acabar de vez a mulher dera pra achar o marido mais feio que a morte. Sem educação, sem dinheiro, sem gosto pras coisas finas e feio! Ah, era demais! Ia ter que se livrar dele, arranjar um jeito de sair numa boa daquele casamento. Precisava ter umas ideias, um plano infalível... O certo é que depois de vinte anos estava farta!

Luzia nunca gastou neurônios urdindo planos. Agenor caçou rumo antes disso: na mesma semana foi-se com Josefina, moça bonita, elegante, prendada — e loucamente apaixonada — com quem mantinha  o maior love, há mais de vinte e cinco anos...