Profissões em extinção

Romeu Prisco

(1) Alfaiate - O bom e velho alfaiate, cujo ofício era indispensável para os homens que queriam andar na moda e bem trajados. Alguns alfaiates dispunham em suas oficinas de poucas peças de tecido, para oferecer aos seus clientes. Muitos preferiam adquirir os cortes em boas lojas, espalhadas pela cidade, com mostruário e estoque mais variados.

Porém, a arte, estava nas mãos dos alfaiates, com sua impecável habilidade de fazer ajustes precisos, seguindo as linhas e curvas do corpo dos clientes. Alfaiate, em português, "sarto", em italiano, e "taylor", em inglês. Hoje em dia, os poucos que restaram, atendem privilegiados clientes em casa ou no escritório.

(2) Amolador de facas - Munido de uma gaita, da qual emitia sempre o mesmo som, o amolador de facas, tesouras e outros instrumentos cortantes, anunciava a sua presença. Sua engenhoca de trabalho era composta de um aro grande de roda de bicicleta, acionado por um improvisado pedal, que fazia girar uma correia e esta, por sua vez, fazia girar a pedra, ou rebolo, que amolavam as facas, com as lâminas mais desgastadas a cada amolação, até que restasse apenas o cabo de madeira.

(3) Funileiro de panelas de alumínio - Enquanto eles não vinham, as nossas mães tapavam os buraquinhos das panelas de alumínio com miolo de pão, que se secava com o calor do fogo. Nem sempre esta improvisação dava certo, porque a "cola" do pão acabava se desfazendo. Numa época em que não existia o revestimento de resina das panelas e poucas eram as de pressão, este tipo de funileiro quebrava o galho das donas de casa, com seu pequeno fogareiro de carvão, onde esquentava o ferro de soldar.

(4) Fotógrafo lambe-lambe - Com sua máquina tipo "caixão", montada sobre um tripé de madeira ou de metal, era encontrado nos jardins e parques públicos, sempre freqüentado, mormente nos fins de semana e nos feriados, por famílias, casais de namorados e solitários, estes via de regra portando um livro nas mãos, que liam sentados em bancos de encosto, à sombra de grandes árvores.

Parte desses freqüentadores também se utilizava dos parques públicos para realização de "pic-nic". E alí estava o fotógrafo "lambe-lambe", para registrar tudo, em branco e preto. Com um improvisado laboratório, fazia a revelação dos negativos no mesmo local, quando não os levava para casa, a fim de entregar as fotos depois de alguns dias.

(5) Realejo da sorte - Pessoas dos oito aos oitenta anos sempre se encantavam com a presença do "homem do realejo da sorte". Mocinhas e rapazes queriam saber o que o futuro lhes reservava. Aberta a porta de uma gaiola, na parte superior do realejo, um gracioso periquito adestrado, retirava com o bico, de uma das gavetas, masculina ou feminina, um papelzinho colorido, contendo a "sorte" do "consulente".

Ainda com a pressão do bico, fazia, numa das pontas do papelzinho, um pequeno furo, como a "certificar" a autenticidade do "documento". Em seguida, o homem acionava a manivela do realejo, que executava, para deleite dos curiosos assistentes, uma das músicas do repertório, gravadas num rolo cilíndrico do aparelho sonoro. Visualize um realejo e tire a sua sorte no seguinte endereço:

http://www.terra.com.br/planetanaweb/produtos/realejo/

(6) Sapateiro - As novas solas dos calçados, já penosamente moldadas e recortadas de véspera pelo sapateiro, de grandes e duras peças de couro curtido, ficavam de molho durante a noite, dentro de baldes com água. No dia seguinte, o sapateiro passava um bom tempo martelando-as, para torná-las mais macias e, antes de costurá-las ou pregá-las na parte inferior dos calçados, deixava-as para secar.

Os saltos dos calçados, principalmente os masculinos, tanto podiam ser de couro, a exemplo das solas, como de borracha premoldada. No salto dos calçados femininos, sempre finos e altos, os reparos só eram feitos em couro. Os calçados masculinos ainda contavam com outras opções de reparo, como o conserto de meia sola ou de sola inteira, com aplicação de pequenos protetores de metal, em formato de meia lua, nas extremidades da sola e do salto de couro, para evitar o desgaste. Para quem não sabe, calçado, naquela época, quando tênis era usado só em atividades esportivas, podia durar vários anos.

Eis aí, amigos, algumas profissões praticamente extintas, substituídas por modernas tecnologias, porém sem o mesmo romantismo de antigamente. Felizmente o contrário se dá com a profissão de escritor, à qual fica reservada a histórica missão de registrar os fatos do cotidiano.

Os da minha geração certamente se lembram de tais profissões em destaque. Todavia, deve existir um sem número de jovens que, talvez, sequer delas tenha ouvido falar. A eles dedico, particularmente, este texto.

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