Se fosse só o olho Dona...

Numa bela manhã de domingo ensolarada, zinia foi caminhar, enquanto olhava a paisagem observou uma feirinha que lhe chamou a atenção. Havia nas barracas muitos produtos naturais e artesanais. A que mais lhe atraiu foi a barraca com produtos da roça. Caminhou até a barraca e o rapazinho que estava atendendo era um típico caipira, chapeuzinho de palha, cigarrinho no canto da boca, aparentava ter uns vinte oito anos, muito simpático e sorridente. Bonito rapaz. Falando mansinho perguntou:

- O que a senhora deseja dona?

- Quero comprar um mel bem saboroso e de boa qualidade.

- Sim, temos muitos, é só escolher.

- Sabe moço, é para o meu filho, ele fica resfriado com facilidade e o mel tem que ser saboroso para ele poder tomar.

- A senhora já tem filho? Tão nova e bonita. - disse ele.

- Qual o seu nome?

- Zínia.

- O meu é José. Uma moça tão bonita desse jeito e interessada por mel, só podia ter nome de flor.

Zínia começou a perceber que José a olhava com um olhar malicioso, fez de conta que não entendeu e continuou interessada no mel.

- Êita! Mais é muito gostosa.

- O quê?!

- O desculpe. Gostoso, o mel da abelha jataí dona, é bom demais, é o melhor mel que tem pra resfriado e muito gostoso também.

- UHmmm... Tem certeza? Posso confiar?

- Num tô falando minha flor.

Zínia interessou-se e perguntou o preço: - quanto custa?

- Pra senhora que é tão bonita vou fazer só vinte reais.

- Por acaso lhe dei confiança? Já cresceu o olho né? - irritada falou.

Ele bem calmo respondeu:

- Ainda se fosse só o olho Dona...

Zínia escolheu o mel e pagou, ao entregar as notas observou que ele continuava com o olhar e o sorriso maliciosos olhando-a da cabeça aos pés.

Ela olhou-o também de cima a baixo para lhe dar uma bronca, foi aí que no susto, entendeu finalmente o que José havia insinuado, pasma e envergonhada virou às costas e saiu dali rapidamente.

O episódio deixou-a perturbada a ponto de caminhar duas horas sem parar, enquanto isso pensava “mas que caipira safado!”

Ao chegar a sua casa contou para o seu marido o ocorrido, achando que ficaria indignado e ele, para sua surpresa, ainda teve a capacidade de brigar com ela.

- Sua tonta! Também, fala o que vem na cabeça. Fala o que quer, escuta o que não quer. – falou ele, zangado.

- Como assim? - resmungou atônita

Depois disso, Zínia foi para o seu quarto refletir, “será que ouvi mesmo o eu que não quis?” - pensou

No dia seguinte, levou seu carro ao mecânico amigo da família e aí, conversa vai conversa vem, lembrou-se que ele conhecia muito bem as variedades do mel, ainda desconfiada da cantada do dia anterior e querendo mais opinião masculina, contou-lhe tudo, inclusive a reação de seu marido.

Ele a escutou e disse calmamente...

– Zínia, minha querida, o mel da abelha Jataí é pouco conhecido, é escasso e também muito caro.

Deu uma pausa, e continuou:

- portanto, esse rapazola, “te cantou, te encantou e te enganou”. E se eu estivesse no lugar de seu marido iria tirar satisfações com esse moleque.

Zínia envergonhada abaixou os olhos, e o mecânico carinhosamente a abraçou, levantou seu queixo delicadamente e lhe deu um delicioso beijo na boca.

(FLORIÉGIO - 2015)

Sandra Ferrari Radich
Enviado por Sandra Ferrari Radich em 21/10/2015
Reeditado em 02/11/2015
Código do texto: T5422367
Classificação de conteúdo: seguro