A MORTE DE PAPAI NOEL

Morávamos na última casa da Vila Canto. A Vila Canto não era uma vila, mas um beco e assim está até hoje, um beco sem saída, sem calçamento e sem o seu Canto, que deu o nome à Vila.

Os vizinhos pelos fundos eram o seu Jovino e a Dona Catarina, na frente uma fábrica de caixas de papelão, num dos lados o seu Canto e no outro o Seu Edmundo apelidado de Mundinho, com ele a esposa e a filhinha de quatro anos, que era um terror, eu nem tanto, ela sapateava, gritava e chantageava.

No Natal de 1960 pedimos, cada um, um triciclo ao Papai Noel. Eu desejava um que fosse vermelho da cor da camiseta do Internacional.

Perguntei algumas vezes ao papai pelo triciclo e ele repetia que eu deveria me comportar para que o Papai Noel trouxesse.

Chegou o Natal e o meu triciclo não veio. O da filha do Mundinho sim, ganhei um caminhão de madeira, que juntou-se a outros, parecidos com ele.

No dia de Natal, pelas frestas da cerca eu via a filha do Mundinho pedalando o triciclo para lá e para cá, assoprando os lábios como se fosse o ronco de um motor, enquanto isto eu arrastei o caminhão até cansar.

Indaguei o meu papai como ela tinha ganho e eu não, se ela era teimosa e incomodava? - ele desconversou, insisti e arrematei acusando o caminhão que ganhara, de ser o desaparecido misteriosamente, quando o Natal se aproximara.

A resposta foi para que eu fosse brincar mais um pouco.

Depois descobri pinceis e tintas no galpão, então naquele Natal compreendi que não havia Papai Noel.

Hoje poderia ter vários triciclos, mas se fosse para tê-los preferiria caminhões, não de madeira, mas de lata reciclável.

Embora Papai Noel tenha me abandonado muito cedo, eu gosto dele e torço que todos ganhem seus triciclos.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 11/10/2015
Reeditado em 15/12/2018
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