AMIZADES VIRTUAIS

AMIZADES VIRTUAIS

Atualmente fala-se muito em amizades virtuais, mas sempre com referência às redes sociais, via internet. As pessoas esqueceram como funcionava uma importante maneira de fazer e manter amizades à distância. Essas amizades, não eram movidas pelo desejo de espantar a solidão e não tinham o objetivo de divulgar trabalhos ou produtos. A pretensão era somente fazer amigos, num verdadeiro intercâmbio cultural, sem cobranças e com gratas surpresas.

Aos doze anos, morando em Alagoinhas, ganhei de Tia Nitinha uma revista muito em moda na época – GAROTAS – esse era o nome estampado na capa e o seu conteúdo era “seguro”, próprio para garotas. Nas últimas páginas encontrava-se o mais interessante: a possibilidade de fazer parte de um clube nacional. E assim tornei-me sócia do Clube das Garotas, com direito a carteirinha com foto, nome e endereço impressos na revista, seção: disponíveis para correspondências. Foi encantador, porque apesar de já estar iniciada no vício dos bons livros, eu tinha o grande desejo de fazer novas amizades, expandir meus conhecimentos, até então limitados à família, colégio e amigos próximos. Sim, para mim era pouco, eu precisava compartilhar, trocar conhecimentos com muitas pessoas.

Minha tia ajudou-me a escolher o primeiro contato, uma estudante de Jornalismo, um pouco mais velha que eu, que residia em Vitória da Conquista. Justificativas para a escolha: Já cursava uma Faculdade; sendo mais velha era provável que tivesse juízo e custos básicos das postagens, visto que eram dentro do Estado da Bahia. Hoje os valores são uniformes para todo o país, dependem apenas do peso. Robéria foi a primeira, logo depois começaram a chover cartas e cartões postais. Do Oiapoque ao Chuí, em quase todos os Estados da Federação eu tinha uma amiga que semanalmente me deixava “por dentro” das novidades e belezas da sua cidade. O carteiro era esperado com ansiedade e a frequência era tão grande que entregava a correspondência, mesmo que o endereço estivesse incompleto ou incorreto, bastava constar o meu nome. Tia Nitinha comprava os selos em quantidade para que eu não precisasse ir à agência dos Correios. Eu fechava as cartas, colava os selos e as entregava ao carteiro. Época de ouro! Podíamos confiar nas pessoas.

O tempo passou, muitos contatos se perderam outros apareceram e durante um período de férias, que eu desfrutava em Ventura, Robéria, que a essa altura residia em Salvador, mudou-se para São Paulo e a missiva que me avisava sobre a troca de endereço ficou à minha espera em Alagoinhas. Em vão tentei entrar em contato, sem sucesso. Escrevi para a mãe dela, em Conquista e a conexão foi restabelecida. Avançando mais um pouco na linha do tempo, depois de concluir o Magistério, acabei vindo residir em Sergipe, mas a nossa amizade continuava firme e fortalecida pelas ligações telefônicas que eram caríssimas e por isso muito raras. Finalmente, por volta de vinte e cinco anos depois do início das nossas correspondências fiz uma visita surpresa à minha amiga, que já retornara à Capital baiana. Parecíamos irmãs que não se viam há séculos.

Mas o tempo passou, o mundo mudou... Ou fomos nós que mudamos? As cartas aos poucos ficaram raras. Apenas em datas expressivas trocávamos correspondências, como era o caso dos cartões de Natal. Eu adorava confeccioná-los. Eram mais verdadeiros. Através das minhas mãos eu depositava em cada um deles o meu carinho e os desejos de paz e luz. Eram criações personalizadas. Isso também acabou. O corre-corre diário nos obrigou a usar cartões disponibilizados pelos Correios e pelas papelarias. Não tinham o mesmo significado. Eram impessoais. Apenas cumpriam uma obrigação social. Nunca gostei de coisas comuns, detesto “mesmice”.

Felizmente, com a privatização das empresas de telefonia passamos a utilizar mais os telefones fixos e móveis. A acessibilidade a aparelhos e planos os tornou mais democráticos.

Finalmente, surgiu a internet nos trazendo as modernas redes sociais. O correio eletrônico substituiu em grande parte as cartinhas muitas vezes perfumadas, quando o destinatário era alguém especial. Como imprimir um aroma de rosas num email? Dá para imaginar uma carta de amor digitada no frio ciberespaço de um computador? Essa sim poderia ser considerada ridícula, sem poesia, sem a marca romântica do beijo sob a caligrafia da pessoa amada. Devaneios... Saudades...

O Orkut! O saudoso Orkut. Que terapia relaxante a montagem de scraps. Mexer com aquele montão de caracteres que quando finalizados faziam surgir imagens coloridas e belíssimas mensagens em HTML. Amigos se agrupavam em comunidades. Umas eram bem divertidas. Outras abordavam temas culturais, literários, religiosos e mais uma infinidade de assuntos. Algumas delas também visavam ajudar pessoas com problemas. Sempre encontrávamos bons amigos. Com o fim do antigo Orkut alguns perderam o contato, mas deixaram boas lembranças.

O MSN incrementava a interatividade dos grupos e como esquecer o nosso G5? Longos e divertidos bate-papos, chegávamos a teclar com dez contatos simultaneamente. Era a força da novidade.

E as transições foram acontecendo. O Facebook e o Twitter passaram a atrair uma grande maioria de internautas. Os amigos que ultrapassaram a barreira do “virtual” continuaram juntos, compartilhando de alguma forma a vida real. Uniões se desfizeram, casais se uniram, filhos nasceram, cresceram, graduaram e lá estavam os amigos ditos “virtuais”, vibrando com o sucesso ou apoiando, confortando nas horas difíceis, juntos por quase uma década. Eis que surge o Whatsapp para estreitar ainda mais esses laços e ganha força, especialmente entre os jovens.

Que dizer dos amigos que saíram do computador e materializaram-se diante de nós. Momentos inesquecíveis de puro encantamento e magia.

Também não podemos esquecer aqueles que partiram no decorrer desses dez anos, e não foram poucos. Posso garantir que o sentimento de tristeza que nos atingiu não foi menor que o que teríamos por qualquer amigo ou familiar presente.

Diante de tanta evolução no mundo virtual, aguardamos sempre o surgimento de novas tecnologias que aproximem as pessoas, que encurtem mais as distâncias e que a humanidade aprenda a usá-las com sabedoria.

Só falei das rosas? Ah!... Dos bons amigos? Bem, esses são troféus que conquistei nas Redes Sociais, desde aquela admissão no Clube das Garotas e que diante de tanta consistência eu tenho absoluta certeza que são almas afins que renasceram em diversas partes do mundo e se buscam constantemente utilizando os meios possíveis e disponíveis em cada época, em cada lugar.

Fátima Almeida

25/08/15

Nota:

As dez redes sociais mais conhecidas no mundo atual: Facebook, You Tube, Qzone, Whatsapp, Google+ Tumblr, Line, Twitter, We Chat, Instagran.

Fonte: Google

Fátima Almeida
Enviado por Fátima Almeida em 03/10/2015
Código do texto: T5403485
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