REQUIEM PARA AYLAN

A pungente foto fala tudo. O corpo de uma criança sobre a areia. Triste música do mar executa o requiem. Para o pequenino infante, a infância interrompida. Não, não há palavras que expressem o sentimento de tamanha dor ante a foto e os fatos que a geraram. Desde imemoriais tempos, a barbárie tem marcado a trajetória humana.

A História tem sido escrita pela crueldade, pelo sangue e pela dor. Ignonímia e horror transparecem diariamente ante nossos atônitos olhos, enfraquecendo mais e mais nossa já precária fé em um mundo melhor. Novamento olho a foto. Invade-me uma tristeza mais profunda que a profundeza do mar dos desgraçados a tragar esperanças.

Aylan, cuja infância jamais conheceu a paz, sem chance de vivenciar um único dia de infantil alegria, somente fugas de absurdas matanças. Assim como este menininho, morreremos todos sem que se descortine um mínimo de sanidade entre povos que se destroem pelos mais torpes motivos.

Aylan, seus pais de tudo fizeram buscando um cantinho de paz, impossível de ser encontrado nesta esfera terrestre. As naus dos aflitos são engolidas pelas gélidas águas.

Certamente, agora estás em paz, junto a sua mãe e seu irmãozinho. Brinque bastante com outros anjinhos que o aguardaram, enquanto espera pela chegada de seu pai, que, felizmente, será breve, pois a vida aqui é efêmera batalha perdida para o Mal.

Enquanto o mar prossegue a triste melodia, afirmo-lhe que sua vida não foi em vão. Certamente cumpriste uma dolorosa missão; seu espírito veio trazer uma mensagem a esta brutal humanidade, que, quem sabe, aprenderá alguma coisa de real valor moral e espiritual.

O mais, por enquanto, por aqui, são lágrimas e dor...

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ZULEIKA DOS REIS comparece com versos escritos pela dor:

AS CRIANÇAS MORTAS ME CHEGARAM A PRAIA

O mundo está estreito demais...

As crianças mortas me chegam a praia

de um mundo estreito demais...

Hoje foi um dia

em que eu quis dizer de vida

mas as crianças mortas

me chegaram a praia...

me chegaram a praia...

A praia está sem vida...

sem vida...

Perdoa...

hoje foi um dia

em que eu queria dizer só de vida...

Perdoa...Perdoa...

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gajocosta
Enviado por gajocosta em 08/09/2015
Reeditado em 10/09/2015
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