Água não gosta de pobre

Água não gosta de pobre

“A água que existe é toda a água do planeta”.

Placa num hotel em Pirenópolis, Goiás.

Sinto um calafrio quando vejo na televisão os moradores dos bairros pobres abrindo a torneira sem cair sequer um pingo d’água. Não me lembro da falta d’água nos bairros ricos. Na imagem seguinte as autoridades de São Paulo ameaçam a população que usar água:

- Vamos multar quem lavar calçadas, carros ou molhar o jardim. Vamos fazer rodízio. Dois dias com água, três sem.

- Nada de flores nesta cidade – Completaria alguém distante.

Quando ‘as águas de março fecham o verão’ algumas regiões entram em alerta por causa da escassez d’água. Isso não é culpa do atual governo nem dos governantes anteriores, tampouco é de São Pedro. A culpa dos governantes vem à tona quando negligenciaram não investir em infraestrutura para captar e conservar a água que cai em tempos fartos, em ensinar empresas e população a não sujar a água limpa e educar-nos usar a água com racionalidade.

Já se passaram quase trinta anos desde os dias em que os professores Odete Roncador e Barradas nos levaram a debater a poluição em São Paulo - principalmente da cidade de Cubatão, do rio Tietê e a possível falta d’água.

Os professores exibiam fotos das chaminés das fábricas em Cubatão vomitando grossas fumaças de produtos químicos. Naquele tempo não conhecíamos a palavra ‘anencéfalo’. Incrédulos, ouvíamos:

- Essa fumaça provoca o nascimento de crianças sem cérebro. Todos os dias dezenas de recém-nascidos são enterrados por causa da poluição. Passaram pelo planeta sem respirar nem um segundo de ar puro.

Hoje pesquisei sobre aquela poluição e li vários elogios às providências das autoridades e da população para despoluir o ar da cidade. Cubatão até ganhou prêmios.

Diante do nosso descaso quando duvidávamos da possível falta d’água, o professor Barradas explicava:

- Calma gente. O rio Tietê não vai acabar embora ele seja o esgoto das indústrias e dos dejetos das casas. A água não acabará, ela não sairá do planeta terra. O que vai acabar é a água potável. Se os paulistas não tratarem seu lixo em breve não terão água para beber. Infelizmente nossa sociedade optou por diluir os lixos nos rios.

A reportagem sobre a represa Billings fez-me lembrar daquelas aulas. Nesses dias de chuvas escassas, o governo paulista disse que reaproveitará a água suja da represa. Esta é a saída para aliviar a agonia dos paulistas pobres sedentos por água.

As chuvas não tardarão e já me preparo para ver aqueles pobres chorando com as enxurradas que levam o pouco que têm. Na seca a torneira deles é a primeira que seca. Nas chuvas as coisas deles são as únicas boiam pelas ruas.

Realmente água não gosta de pobre.