Bom dia! Feliz Dia Do Trabalhador. Hoje Compartilho Com Vocês Uma Crônica Poética
 
 
DEVANEIOS ELETRÔNICOS
 
(...) Sobrevivo entre as máquinas
Neste casarão onde o sol é florescente
E os ventos são todos artificiais...
Onde não sabemos se é dia ou noite
 
Olho no relógio que assinala 07:27 AM
E aqui quantos rostos, sonhos e ilusões
 
Vejo os zeladores e os executivos
Dividirem a mesma cantina...
Mas os níveis os diferem
 
E nesta grande planta... Quantos fatos?
 
Todos pisam o mesmo chão
Mas alguns sorrisos são configurados
 
É a lei da sobrevivência...
Que brota no homem fraco o desespero
 
Eu conversei de novo com a faxineira
Nela sempre vejo um sorriso genuíno
E mesmo diante de tantas adversidades
A senhorinha ainda sorrir, sorrir...
 
De repente sou golpeado...
E uma voz brada em meus ouvidos
 
Por quantas noites?! Quantas noites?!
Ela e o filho dormiram com fome
Deus queira que nunca!
 
Às vezes chego a pensar...
Que não pertenço a este lugar
E me refugio em minhas letras
Com elas sim eu me entendo
 
Aqui é uma prisão, uma condicional
Mas ao avesso da convencional...
Passamos o dia aqui e dormimos em casa
Mas também não nos condenemos...
Pois é aqui que com dignidade
Ganhamos o nosso pão
 
Deste quadrilátero eu observo minha vida
Enquanto meus dedos constroem palavras
E eu as vejo nascendo nessa tela eletrônica
 
O sentimento não é bom e a alma...
Ah, alma deve ter mudado de cor
Me sinto excluso, sim a parte, afastado
Mas ainda assim a escrita me chama
Rendo-me a ela nestes versos livres
 
Talvez os quase dois mil dias aqui
Já tenham deturpado a minha mente
Que agora viaja em devaneios,
Mas neste grande sítio...
A loucura seria uma doce melodia
 
Olho ao meu redor e me pergunto
Até quando aqui? Até quando?
E o mundo correndo lá fora,
E eu não posso correr pra abraçá-lo
Talvez amanhã os reflexos sejam outros
 
E tantos planos que fazemos
Os sonhos adormecidos em mim
Tantas coisas pelas quais ansiamos
Que nunca estão ao nosso alcance
 
O que me conforta é saber
Que laboro com dignidade
Enquanto que a de milhares
Alguém lhes roubou esse direito,
Também nunca vendi minha honra
 
E tenho um sorriso lindo, lindo
E uma voz de um anjo...
Me esperando em casa
 
De repente o primeiro sinal
 
[♫ ] Advertência!
 
Minha escrita é interrompida
 
[ ♫ ] E no segundo sinal
 
Começamos mais um dia de trabalho
As máquinas começam a serem ligadas
E as engrenagens do capitalismo...
Ditam o ritmo de guerreiros e guerreiras
Que apesar das dificuldades ainda sorriem
Depois de longas horas...
De árdua labuta.
 
 
 
( Fábio Ribeiro - Agosto/2015 )