CRÔNICAS DA VIDA
 
Na década de setenta, uma moça de treze anos de idade e de uma família muito pobre, deixou o interior do Amazonas para vim morar com parentes na capital de seu estado.
 
Fora residir na periferia da cidade, em um dos lugares mais violentos da época, o famoso Bairro da Compensa.
 
Ela recebeu uma proposta para trabalhar na casa de uma senhora de classe média no Bairro São Francisco. Não recusou o trabalho e para a nova morada mudou-se. Lá ela era responsável pelos labores domésticos.
 
A sua patroa tinha vários filhos e um deles sentiu-se muito atraído pelas virtudes da nova empregada.
Não demorou, para que os dois estivessem envolvidos. Depois de alguns meses sucedeu o que não era de se admirar, a moça estava grávida. O pai não assumiu o filho e muito menos a mãe. Depois de grávida ela retornou para a casa dos parentes no Bairro Compensa.
 
O garoto nasceu muito franzino e devido a não ter recebido os devidos cuidados, o umbigo da criança era do tamanho de uma lâmpada. A mãe muito jovem, não tinha maturidade para cuidar nem de si própria, imagine para criar outro ser humano.  
 
Nas vizinhanças, havia uma senhora que tinha vindo do interior, entre a vida e morte. Ela estava grávida e teve sérias complicações no parto, mas Deus a abençoou, pois o médico não conseguiu salvar sua criança, no entanto, salvou a mãe.
 
O garotinho do umbigo grande contemplava o mundo de uma caixa de papelão...(pausa)    Com certeza passou fome e sede, enquanto a mãe levava a sua vida de adolescente nas ruas da cidade.  
 
Um dia, a senhora que o medicou havia operado, foi até a casa onde ficava o garotinho e vendo aquela situação se comoveu e conversou com a irmã mais velha da mãe do garoto. Perguntou se ela queria dar o menino. Ela explicou que o médico tinha dito a ela que nunca mais  iria poder engravidar.
 
À noite, a tia conversou com a mãe que não se opôs e o garoto foi adotado pela senhora, que retornou para o interior com um varão no colo. Deus tinha tirado com uma mão e dado com a outra.
 
O menino foi criado pelo aquele casal, naquele município do interior do Amazonas. Ela uma caboclinha e ele um homem negro com sangue Maranhense, mas já nascido em solo Amazonense. Eles tratavam seu arigozinho com todo amor e carinho que todos os pais devem dispensar a um filho único.
                                                              
O nome do garoto era Orlando, mas eles lhe deram um novo nome e o registraram. O menino cresceu e quando ele já tinha entendimento o suficiente, os pais explicaram  que ele tinha sido adotado, contaram toda a história. O garoto ouviu calado, quis chorar, mas depois aceitou.
 
Aos nove anos idade, os pais tentaram adotar mais uma criança. Desta vez tratava-se de uma menina. Eles a trouxeram de Manaus, mas não deu certo, ela ainda morou quase um ano com eles e depois regressou para morar com a avó-materna na capital.  Mas eles nunca perderam o contato com ela.
Ela teve três filhas, e uma dessas filhas viria ser registrada como filha do garotinho do umbigo grande, futuramente. Ano passado o Senhor a chamou, depois de lutar por quase um ano contra um câncer, ela partiu para outra dimensão.
 
Continuando sobre o garotinho...
 
Aos dez anos, algo trágico abalou a família. O casamento de seus pais chegava ao fim. Seu pai era um homem muito perdido por mulheres. Os pais se separaram e o garoto ficou morando com o pai, que em menos de um ano lhe deu mais de sete madrastas. A mãe viajou para Porto Velho e depois mudou-se para Manaus.
O pai era um comerciante bem sucedido naquela pequena cidade. Mas as mulheres e o descontrole com o dinheiro o levaram a falência. E tudo que este homem construiu com anos de trabalho árduo se acabou, e nunca mais ele conseguiu reaver.
 
O garoto ficou morando com o pai até aos quatorze anos, nessa idade mudou-se para Manaus, para morar com a mãe, que já estava na capital há quase um ano.
 
Como o destino é  surpreendente.

A mãe adotiva do garoto se amigou com um de seus primos biológicos, que agora além de primo, era também padrasto. Eles moravam na casa da tia biológica do garoto, no mesmo Bairro da Compensa.

 
Quando ele tinha quinze anos de idade,  foi levado para conhecer sua mãe biológica que morava em outra zona da cidade, no Bairro Morro da Liberdade. Foi, conheceu a mãe que agora com mais de vinte anos, já tinha tido um casal de filhos. Ela deu o menino e ficou com a menina.

Aos 24 anos de idade, por se encontrar em uma grande dificuldade, o garoto foi procurar pelo pai biológico. Ele o encontrou e o pai nem acreditou, quando viu aquele filho já homem feito e com uma grande semelhança com ele. O pai disse que não sabia da existência do filho, o filho também não questionou. Ele o ajudou dentro de suas possibilidades e também apresentou a ele três irmãos biológicos - duas meninas e um rapaz.
 
Hoje esse garoto tem contato com todos e ama a todos eles.
Inserido em quatro famílias, tudo para ele é dobrado, recompensa de Deus por tudo que ele passou...

 
Tem Dois Pais – Vivos
Duas Mães – Vivas
 E mais de trinta irmãos...
 
O garoto virou homem, hoje tem esposa e filha e agradece a Deus todos os dias a quem lhe deu a vida e a quem a conduziu por ela.
Sonha em um dia também poder adotar uma criança.

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