MEGALOMANIAS

Severino Lopes nunca foi a Roma mas, no domingo passado, todo orgulhoso, postou uma foto que tirou junto com a namorada em frente ao Coliseu. O casal estava entre as 900 pessoas que compareceram à inauguração do imponente monumento. E esta façanha só foi possível, sem romper a barreira do tempo e do espaço, porque estou falando do “Coliseu do Sertão”, estádio municipal construído no interior do Ceará que reproduz um dos maiores símbolos do império romano.

Com arquibancadas para cinco mil pessoas até agora, a obra consumiu seis anos e R$1,3 milhão. Mas a capacidade prevista é de vinte mil torcedores, embora a cidade-sede só tenha 16.823 habitantes. Não houve nenhuma luta entre feras e gladiadores naquele dia e, sim, um jogo do time da casa pela terceira divisão do campeonato regional. Um a zero. Um gol que custou mais de um milhão de reais, mas, segundo o prefeito, valeu a pena. Ave, César!

Este não é um caso isolado de megalomania dos nossos mandatários. Entre 1982 e 1990 um deputado federal edificou na Zona da Mata em Minas Gerais um castelo com 7.500 metros quadrados, 36 suítes com closet, banheiros revestidos de mármore e heliporto. Além de dez dependências para serviçais, garagens cobertas, complexo aquático com sauna, piscina aquecida e hidromassagem. Ou seja, só faltaram mesmo os canhões e a ponte levadiça.

Foi nessa época – mais precisamente em 1989 – que o presidente interino da República transferiu provisoriamente a capital do país para a cidade de Mombaça, sua terra natal, onde chegou num avião da FAB levando todo o séquito de ministros e assessores. Se ficasse mais tempo no cargo teria construído, lá, uma réplica do Palácio de Versalhes. De qualquer modo, por uns dias Brasília ficou a ver navios.

Aí você dirá: Brasília não tem mar, portanto não poderia ter navios. E eu só perdoo a ingenuidade da minha meia dúzia de leitores porque eles ainda não haviam nascido ou estavam no colo dos pais na década de 1960. Se já fossem crescidinhos naquela época saberiam, desde então, que o político brasileiro faz qualquer proeza para ganhar o seu voto. Como, por exemplo, trazer o mar para Belo Horizonte, para a Lagoa da Pampulha, que seria completamente esvaziada para esse fim. Pelo menos foi isso o que prometeu um candidato à prefeitura – depois deputado federal – num delírio de propaganda que a imprensa apelidou de “mareduto.” Resultado: o visionário perdeu a eleição e nós perdemos o mar.

O certo é que hoje – com o país em crise e o real desvalorizado – o brasileiro não precisa mais sair do território nacional para visitar um castelo ou conhecer o Coliseu, graças a esses políticos “empreendedores”. Da mesma forma, por pouco o mineiro nem precisaria deixar o Estado para tomar banho de praia, porque o mar estaria batendo na porta de sua casa, uai.

Tanta bizarrice só não cai completamente no terreno do folclórico, a lembrar o saudoso Stanislaw Ponte Preta, porque essa megalomania acabou aguçando o apetite dos corruptos em níveis estratosféricos. Propina, hoje, está na casa dos milhões em cada bolso. Centenas de milhões nos bancos. Até cueca, meia e calcinha são utilizadas como cofre. Obras de arte e carros de luxo já têm uma nova função: lavar dinheiro. Dizem até que, se toda essa gente for afinal condenada, não caberá no superlotado sistema prisional do país.

Aí então eu pergunto: já que temos agora um coliseu, não seria o caso de jogar esse pessoal na arena e abrir as jaulas? Digo...fechar as portas? Abaixe o polegar quem concorda.

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 12/08/2015
Código do texto: T5343536
Classificação de conteúdo: seguro