Desventuras românticas de um tímido

A vida de um tímido é recheada de emoções, já que socializar nem sempre é um caminho fácil para nós. Como todos, temos os sonhos românticos de uma vida a dois, mas escalar o alto muro que nos cerca, as vezes, é um desafio, tanto para um lado, quanto para nós mesmos. Somos excelentes idealizadores, mas nem sempre, muito bons na prática.

E quanto menos a vontade nos sentimos em uma situação, maiores as probabilidades de nos atrapalharmos e tropeçar nas próprias pernas, especialmente em relacionamentos, que por si só, já seriam complicados, mesmo sem a "benção" da timidez. Afinal, no princípio, são dois estranhos, tentando encontrar caminhos e afinidades, que permitam o encontro.

Curiosamente, não era tímido quando criança (pelo menos até uns 7 ou 8 anos) e já admirava muito as mulheres. Enquanto

os outros meninos estavam na fase de negar e "fingir" uma aversão ao feminino, eu já ensaiava alguns selinhos pelo caminho. Realmente, quando criança era um "bad boy"..rs Tinha uma "namoradinha" no colégio e outra na rua de casa.

Mas fui crescendo e assim como Adão e Eva, que ao provar a maça, sentiram vergonha e cobriram a nudez, a passagem da pureza infantil para a vida adulta, me "vestiu" de inibição. Por mais que gostasse de alguém, simplesmente, as palavras não saiam ou quando saiam, dificilmente, diziam realmente o que gostaria de dizer.

Ainda me aventurei com cartas e telefonemas anônimos, amores e sofrimentos platônicos, mas definitivamente, minha "roda" era quadrada.

E todas as histórias, que narrarei, ainda que hoje, me pareçam cômicas, um dia foram sérias e tristes. Realmente, alegria e tristeza, caminham lado a lado, tudo depende da forma como olhamos.

Devo agradecer meu "primeiro beijo" a minha antiga banda de Heavy metal: "Emperia". Nunca nos apresentamos em casas de show, mas nossos ensaios em estúdios costumavam sempre ter convidados e pessoas que eu desconhecia. Atrás da guitarra, realmente esquecia que estava sendo visto. E em um daqueles ensaios, lá estava ela, junto com duas amigas. Ela me viu, eu mal conseguia olhar para ela. E foi a amiga, que marcou e providenciou todo o nosso encontro.

Não havia celular na época (sim, já faz bastante tempo isso) e ela morava longe.Não tinha muita ideia de tempo e distância e mesmo muito ansioso, consegui chegar com 1 hora de atraso e me deparar com um rosto nada amigável. Minha inibição se manifestou prontamente e levei um tempinho para conseguir vê-la sorrir novamente. Ela me levou para um lugar, que todas as outras pessoas envolta se beijavam. Seria uma sugestão?

Mas ainda que tivesse muita vontade, fui incapaz de fazer. O dia foi passando e eu já me preparava para aceitar que tudo teria sido em vão, quando ela com uma brincadeira de segurar o polegar, me puxou para ela e assim foi o beijo.

Quando o problema não é o começo, somos presos em detalhes...Uma outra tentativa de namoro, ela paulista, eu carioca... e uma ponte aérea entre nós dois. Estávamos no Trianon, deitei no colo dela e repentinamente ela me beijou, um beijo interminável... Deveria ser um relato maravilhoso, mas

o beijo não parava e eu comecei literalmente a sufocar. Mas não conseguia encontrar um jeito delicado de fazê-la parar ou afastá-la um pouco... Achei que seria o meu último beijo até que o guarda do parque, disse que ali não podia beijar! Nunca fiquei tão feliz com a legislação! Salvo por um guarda! E ainda dizem que a polícia não faz nada...

Enfim, quando, finalmente achei que estava preparado para um encontro, mais desenvolto falando, me deparei com uma tímida. "Dois bicudos não se beijam", diz o dito popular, certamente escrito para dois tímidos! Eu me esforcei arduamente para desenvolver assuntos, mas as respostas eram sempre monossilábicas e não davam continuidade e eu em um desespero mortal, tentando criar perguntas, sem mais ter o que perguntar... Talvez, deveria ter usado aquele momento como um divã e feito terapia, já que ela em um modelo rígido freudiano, só me ouvia... Mas não o fiz e também não mais a vi. Pouco tempo depois, ela estava namorando e pelas fotos, ele não era tímido!

De fato, neste caso, "os opostos se atraem", porque os extrovertidos tem sempre esse talento de nos tirar da concha e de alguma forma nos deixam confortáveis, já que normalmente, dominam os diálogos.

Mas entre trancos e barrancos, vamos seguindo, mudando, nos transformando e felizmente com o tempo e a maturidade, melhorando..

Aquela força imensa que se fazia com o tempo viram músculos emocionais e as situações não parecem tão pesadas. Sempre fui tímido e míope.. Pensava que se houvesse um Cupido e ele se afinasse a mim por similaridade, então certamente, ele havia herdado meu silêncio e minha miopia.

Uma vez pensei ter visto uma de suas flechas..mas, na verdade, era Eros me usando para brincar de tiro ao alvo.

Fernando Paz
Enviado por Fernando Paz em 11/08/2015
Código do texto: T5342720
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.