Os Abandonados

Sentimento de extrema tontura e hipocondria se apossam quando observo estarrecido, culto a tamanho sofrimento. Espalhado em estampas de uniformes e vitrines vazias, que entre os uivos da guerra, marcham guiados pelo medo de não terem amadurecido o suficiente ao ponto de sonharem com um futuro. E cheios de certezas sobre si mesmos, abraçam a ignorância e o desespero, fadigados pela artificialidade imposta em reinos de egos.

Lamentavelmente escrevo para os abandonados, àqueles que assim como eu, se perderam em meio ao caos, se corromperam por carência, obedeceram por incapacidade, abduziram por sede e violentados violentaram.

E desse modo, vagamos adormecidos tempo afora, distantes de qualquer coisa que se possa chamar de civilização. Ausentes de pensamentos, ainda somos inaptos a desvendar o que saiu errado, e como sairá.

Seres potencialmente desenvolvidos, cativos tecnológicos e deficientes adestrados a cargo da ordem.

Vivemos? Que significa fazê-lo sem ao menos sê-lo? Pois ainda não compreendi a separação do ser e estar. E mesmo se vivemos, estaremos vivos? Acredito na ficção que é viver ou vivo acreditando na possibilidade de morrer?

Talvez essas simples perguntas possam estar perturbando a complexa realidade humana, e por falta de respostas, nos abstemos daquilo que desejaríamos saber, para livres existir na ignorância de não questionar o nosso papel nesta peça cósmica.