A casa de mim

A maravilhosa e saudosa poetisa Cecília Meireles um dia disse: "Não deixe portas entreabertas. Escancare-as ou bata-as de vez. Pelos vãos, brechas e fendas passam apenas semiventos, meias tempestades e muita insensatez."

O pensamento-opinião da poeta é válido e carrega um fundo de verdade. Mas como verdade é igual umbigo, cada um tem a sua. A minha não é tão radical. Eu gosto de ter a opção de poder voltar pelos caminhos que já trilhei. Nunca fecho nada definitivamente. Não acho legal. Quero poder ter a chance de dar nova chance ao que ficou pra trás, ainda que possa parecer insensatez. Posso escolher visitar um lugar ou alguém que não me fez feliz, mas que permitiu que eu amadurecesse. Posso não voltar a entrar naquele quartinho dos fundos, mas posso, também, dar um espiadinha de vez em quando, só pra relembrar algo que está lá dentro. Algo ruim, talvez. Mas algo que é meu, que faz parte de mim, que me permitiu seguir por caminhos que, de outra forma, talvez não tivesse conhecido.

Dou graças à portas entreabertas. Poder espiar lá dentro, apesar de incomodar um pouco, me lembra que evoluí e, hoje, sou uma pessoa melhor. Minha vida não é feita de compartimentos estanques, mas de cômodos entrelaçados. Preciso de todos, mesmo os não tão confortáveis. O conjunto é que faz de mim o que sou. Minha casa interior tem muitos cômodos. Uns alegres e claros, outros tristes e sombrios. Mas é a minha casa. Gosto dela assim, com suas luzes e sombras.

Bem vindos à minha casa torta!
Rosa Pinho
Enviado por Rosa Pinho em 29/07/2015
Código do texto: T5327487
Classificação de conteúdo: seguro