O caráter da escrita (ou o que a borracha não apaga)

Meu avô dizia que o caráter de um homem é medido pelo modo como ele aponta um lápis. E nisso se inclui, além do tipo de ponta, o material usado para alcançá-la: chão, estilete, apontador, de mesa e manual, é bom destacar.

As pontas bem finas, dizem que a pessoa é muito tímida, sempre sutil em seus movimentos, para assim não ser notada. Se for fina e muito lisa, é porque a pessoa tem bons modos, mas no fundo vive mesmo é se esquivando de seu papel no mundo.

Temos também aquelas pontas com laterais, comumente feitas através de um estilete. Quem assim a usa é uma pessoa mais rude de hábitos, mas sempre disposta a ajudar e resolver os problemas alheios, pois uma vez que não ligam para coisas superficiais, como uma ponta toda lisa, não temem o caminho que aparecer, seja lá qual for.

Aqueles que apontam somente o começo do grafite são pessoas que vivem na espreita, sempre prontos a nos passarem a perna. Ficam na superfície das coisas, atentos a todos os movimentos da humanidade, para assim tirarem proveito.

Uma das pontas mais peculiares são aquelas bem longas, feitas usando-se estilete ou apontador, de mesa e manual, claro. Essas pontas apontam (que infelicidade de sons) para pessoas com um ar altivo, cientes de sua grandeza, mas que desconhecem o tombo da soberba. Se lisas, caem mais facilmente; se com laterais, demoram mais, e igualmente se machucam mais.

Um homem que aponta o lápis no chão não tem ambições na vida, vive de migalhas a espera de um sinal para começar a sua existência. Uma pessoa que só usa o apontador está sempre escondendo a sua verdadeira face, seja por vergonha ou por trapaça. O ser que usa apenas o estilete está mais preparado para a vida, mesmo que seja para fins escusos, sem caráter.

Por ultimo, lembro-me de que ele também citava aqueles lápis com as duas pontas feitas. As pessoas que se servem desse artifício são sempre ambíguas, dúbias, de sentimento, responsabilidade, caráter e amor próprio.

Depois dessa longa explicação sobre os lápis, que passava desde o seu surgimento até a produção em escala (alta escala!), meu avô finalizava a explicação dizendo que bom mesmo é escrever, pois isso é o que demonstra o nosso verdadeiro interior, moldando a ponta aos nossos anseios, estudos e às nossas pesquisas e descobertas.