Maldita Felicidade

O filme "Jornada da Alma" trata do rompimento do famoso psiquiatra Carl Jung com seu mestre Freud e

a descoberta (2000) de cartas trocadas de um relacionamento proibido com sua primeira paciente. Em determinada

passagem, diante de uma fantástica ópera ao lado da sua então amante, Jung em lágrimas profere: "Maldita Felicidade"!

Embora fosse um momento de plenitude e libertação, aquele momento poderia representar o fim da sua promissora carreira

e mesmo comprometer os demais envolvidos.

Sem entrar nos méritos morais e éticos da situação, afinal quem somos para julgar qualquer pessoa?

Nunca esqueci desta expressão, que me pareceu tão contraditória, intensa e rica de simbolismo.

Naquele momento de êxtase pleno quase como um suspiro da opressão diária, o "maldito" representava todas

as correntes e as prisões superadas. Uma liberdade que mesmo devendo ser reprimida, foi permitida e aceita naquele

instante.

Acho que essa "maldita felicidade" é o grito que gostaríamos de dar diante de todas as nossas limitações e medos, permitindo e aceitando sentir plenamente, o que por convenções ou restrições íntimas sufocamos, ainda que constantemente faça parte de nós.

Como um pensamento proferido, uma atitude realizada, um desejo satisfeito, um medo enfrentado..

Uma libertação das regras, que muitas vezes ditamos e repetimos como hábitos impensados, que ainda que não faça diferença ao mundo, fere quem somos ou gostaríamos de ser. Nos tornando juízes mais severos do que qualquer julgamento alheio.

E nessa ânsia "perfeita" pela felicidade, acabamos por distanciá-la de nós.

Romper, aceitar, quebrar a rotina, fazer as mesmas coisas de forma diferente, surpreender e se deixar ser surpreendido, se libertar

ainda que momentaneamente dos personagens que assumimos no dia a dia, esquecermos o tempo, as fórmulas, deixarmos ser ou "let it be" (como diriam

os Beatles)...

Não é um movimento fácil, afinal há raízes e paradigmas que se cristalizam em nós ao longo de nossa constante transformação e o que por sua vez

justifica o uso da expressão "maldito". Afinal maldições para serem quebradas por vezes exigem longo tempo de dedicação e entrega aos "rituais".

E ao dizer isso também não estou pregando o erro, o egoísmo ou a indiferença...Alias egoísmo e amor próprio não são sinônimos.

Se amar e respeitar é o primeiro passo para amar e respeitar de forma inteira todos aqueles que tiver a oportunidade de conviver.

Sem aparentar ser, simplesmente sendo!

E assim ligaremos a chave da fluidez, da flexibilidade e da aceitação... e suspiraremos com vontade: "Maldita felicidade"!

Fernando Paz
Enviado por Fernando Paz em 18/07/2015
Código do texto: T5314814
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