A Palestra, e o Essencial

O essencial é invisível aos olhos. Assim diz Antonie de Saint-Expuéry, em trecho do seu livro, mundialmente famoso, e campeão de leitura, O Pequeno Príncipe. A afirmativa – e assertiva, porem, aos olhos comuns, digo, do corpo, da carne, e não do espírito, nada diz como o muito que diz o contrario do que muito se pensa acerca do que pode ou não pode na seara sexual da vida do cristão evangélico.

Claro que você deve está se perguntando o que o livro citado acima teria a ver com a vida sexual do crente ainda mais que no campo sexual os olhos são o que atiçam o desejo, já que o texto é aberto com a afirmação de que o essencial é invisível aos olhos. E, realmente, parece mesmo sem pé e sem cabeça. Mas não é. Entretanto daremos uma pausa nesse assunto para entrarmos no texto, para depois voltarmos a esse 'contexto'.

Não é novidade pra ninguém que muito cristão, seja ele evangélico ou não, pensa muita coisa – muitas delas equivocadas - acerca do sexo. Do sexo que lhes envolvem, ou que não lhes podem envolver. Da mesma forma que há quem não se entregue ao Senhor, ou seja, se converta ao evangelho de Jesus Cristo, justo por causa “desses limites”, e se mantêm no pecado das liberdades que uma vida espiritual sem compromisso tem lhes proporcionado, sem que isto lhe impute, quem sabe, culpa alguma.

Mas entre os cristãos evangélicos que se equivocam sobre a vida sexual do crente ser, ou dever ser, cercada de isso não pode, como se nada disso pudesse ser, não está um crente, o pastor-presidente da Assembléia de Deus de Barra de Jacuípe, Edvaldo Filho, que recentemente conheci e - assim como tantos outros sacerdotes de Deus por esse mundo a fora que, comungando da mesma idéia, também assim tem orientado suas ovelhas, que palestrou sobre o tema e deu um show de sai pra hipocrisia, levando a platéia, de puro crente, ao delírio. Mas calma, que aqui o delírio atende por gargalhada. Ou seja, altas gargalhadas.

Há muito a ser registrado aqui sobre o que se viveu ali naquela noite. Entre tudo a habilidade do palestrante; da mesma forma que a descontração com que conduziu a palestra – sem palavras agressivas ou desconcertantes e muito menos as banais. Mas isto incluso tornaria a leitura, por muito longa, deveras cansativa. O que não é a proposta. Mas fazê-la, ao invés disso, muito prazerosa. Aliás, o que é bem cabido aqui. Se é que você me entende. Mas como a estrela do texto não é o pastor Edvaldo, mas lhe mostrar como com graça – ao invés de sem graça como se pensa, é, e de fato deve ser, a vida sexual do crente, desmistificando a coisa, aqui vão algumas das colocações do reverendo, que, ainda que dissertando sobre um assunto tão sério, levou a crentaiada presente toda a arrebentar os botões da blusa. Ou seja, a morrer de rir:

Dizendo que ao crente tudo, ou quase tudo, é permitido, falando conforme a Bíblia, e citando passagens no livro de Cantares, do rei Salomão – onde se vê que liberar e provocar a libido do/a parceiro/a nada mais é que não só cabido mas principalmente devido na vida dos casais, desde que consentido pelo/a parceiro/a, e feito entre os dois, e tão somente entre os dois, sem profanação do leito ou do casamento, o palestrante arrancou suspiros da platéia ao dizer que isso pode, e aquilo também.

Mas os trechos realmente cômicos não se fizeram de rogado: lembra do cristão aí acima, que, uma vez convertido, passa a achar que tudo é pecado? Daquele que se a mulher quiser ela não pode se manifestar por que a iniciativa tem que partir dele? Pois é, ele, o pastor, saiu lá com um que, a mulher, coitada, achando que tava abafando, mandou o indivíduo sentar no sofá e fechar os olhos, e que e ao abri-los lá estava ela diante dele vestida numa lingerie pra lá de sensual. Ao que o cabra ordena: “Ajoelha! Aaaajoeeelha!”. E ela, sem imaginar o que aconteceria, obedece. Ao que ele, com a mão sobre a cabeça da assustada, quer dizer, da esposa, dispara: “Sai dela pomba-gira!”. Nessa hora tenho quase certeza que se alguém ali tava mal da bexiga largou no banco.

E citando outro trecho da Bíblia, Gênesis 2; 24-25, que versa sobre ao se casar o casal torna-se uma só carne, “e que ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam”, o pudor sem propósito com que muito crente permeia sua vida sexual não passou ao largo do palestrante em sua preleção. O que provocou um encaixe de carapuça na cabeça dum monte, por algumas reações quais pude notar, ao citar que há crente, sobretudo mulher, que não se despe na frente do marido e depois se queixa que o camarada não comparece; e quando resolve abrir a guarda, ela ainda ordena que o assanhado “apague a luz!”, fazendo o coitado sair (e nesse ponto ele estira os braços para a frente e sai andando – fazendo a turma engasgar de rir -, como que imitando alguém que anda no escuro sem enxergar nem onde está a cama), se esquecendo que, diferente dela, como acontece com toda mulher, que se manifesta com o ouvir e o sentir, o homem reage com o ver. Ou seja, pelo que ela lhe mostra.

Outro momento que o povo quase chora de tanto rir, em concordância com ele, foi quando o pastor palestrante usou o fogão à gás e o fogão à lenha para definir homem e mulher no âmbito sexual: dizendo que no caso do homem para acender basta avistar a esposa despida mas que tão rápido quanto acende ele apaga; e que no da esposa, que 'é como um fogão à lenha', que para acender é preciso paciência, chegar lenha, assoprar, abanar, e abanar, e assoprar - referindo-se às indispensáveis preliminares - que tão difícil quanto é para acender é ainda mais para apagar depois de acessa, quer dizer, de aceso o fogão. Foi realmente fantástica a analogia.


Mas a falta de sensibilidade do homem, no que tange
o servir a ela, ou seja, provocar a libido da esposa; com as preliminares, lhe tocando, a acariciando e falando palavras doces aos seus ouvidos, também provocou desconcerto num monte de marmanjo, ainda que o palestrante tenha abordado o assunto duma forma bem descontraída. Nesse ponto, para reproduzir a cena do momento do “convite” do marido à mulher, que antecede o ato, que não dá para reproduzir aqui, e que representa 03 gestos com os braços, apontando “o caminho”, quase que joga algumas esposas pra fora das cadeiras, tamanho as gargalhadas.


Como o tema propõe, além da abordagem ao fato de que, no quesito emoção a mulher é sensível, ou frágil como um fusca, comparado ao homem, que é bruto como uma carreta, o que deve levar a esposa a refletir antes de entrar em rota de colisão, de 'enfrentar' o marido sem a devida sabedoria, tudo citado à luz da bíblia, foi uma palestra prazerosa de todos os pontos de vista – temático, claro. Tanto pelas dicas para muitos dos presentes ali quanto pelos puxões-de-orelha. Pena que, pelos depoimentos após a mesma, já a caminho de casa, o tempo de preleção foi muito curto comparado ao costumeiro usado pelo palestrante. O que, assim como o exposto aqui não foi de nem metade do que ocorreu lá, não daria para reportar numa simples crônica todo o mais que haveria, portanto.

Sei. A essa hora você já deve ter se perguntado sobre a frase que abre o texto. Claro. Pois é, você deve ter passado desapercebidamente pelo ponto, na verdade pelo outro ponto que se relaciona com a dita frase. Quer dizer, nesse caso, com a contradição com ela. Que é que “o essencial é invisível aos olhos” já que no sexo, tanto para o homem quanto para a mulher, o essencial é exatamente o contrario. Ou seja, que o essencial é o ver e o tocar. Mas, antes lhe dizendo que, como no livro, que o autor volta a ser criança para viver determinada situação, rememorando, revivendo a pureza duma criança para se permitir uma liberdade ate ali recatada, na vida sexual do crente em Jesus também se é importante voltar a pureza que tornou-se dentro de nós no momento do novo nascimento, para vivermos aquilo que Deus, e não o diabo, criou para que tivéssemos alegria e não sentimento de culpa diante do Criador.

Entretanto, porem, todavia:

Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e ao adúltero, Deus os julgará. Hebreus 13:4 

[Mas, grifo meu, não confundir o “sem mácula” com o “isso não pode e aquilo também não”. Muito menos que tenha algo a ver com manchas de sêmen no lençol, ou com o beijar na boca, o deixar a luz acesa, o tomar banho juntos, entre outras cositas mas que não cabe escrever aqui – dado o horário, desde que haja consenso entre os dois. Eu disse entre os dois e tão somente entre os dois].

Ah, já ia esquecendo. Sim, claro, faltou explicar o que a frase de abertura teria com o contexto do texto. É que na verdade a frase não é contexto, mas a essência do texto. Isto porque eu não podia deixar passar mais essa oportunidade de lhe dizer que mesmo a Jesus não se vendo com os olhos Ele deixa de nos ser essencial...