Um 'deus' que come farofa e linguiça. O triste caso de um exaltado magistrado brasileiro

matéria veiculada hoje em várias mídias muito me chamou a atenção: trata-se da ordenança de um juiz de direito do DF que mandou afixar na porta de seu gabinete que os advogados devem ficar de pé quando ele adentrar ao recinto.

Trata-se, sem dúvida, de extrema vaidade e insegurança, além de incitar o ódio interior e descontentamento no seio da comunidade jurídica.

Será que o meretíssiiiiiiiiiiiimooooooooo é tão carente assim, ao ponto de querer que os advogados e demais pessoas presentes massageiem o seu ego inflado com postura de reverência e possível continência quando de sua 'ilustre, suprema e divina presença'?

Nossa, quanta vaidade e meninice adentrando e se enraizando em nosso meio.

Estes dias conversei com um ex-advogado e aquele me confidencializou que já presenciou muita coisa no que tange aos excessos cometidos pelas autoridades 'supremas' do judiciário e que presenciar tais condutas foram decisivas para sua saída da gama de 'advogados inscritos' na Ordem dos Advogados do Brasil e que se sente muito mais feliz, reconhecido e realizado fazendo outra coisa, mesmo que vinculada à profissão. No entanto, ter que evitar se prostrar diante de deuses que comem farofa e linguiça já é de bom tamanho.

Li há alguns anos atrás uma reportagem do desembargador aposentado Dr. Vlademir Passos de Freitas e seus conselhos muito me impactaram, pois costumo guardar a sete chaves conselhos de veteranos no cenário jurídico, pois, acho interessante ponderar e considerar tais recomendações procedentes de pessoas que estão no cume da pirâmide jurídica e jamais se envaideceram por tal rótulo, nem patente. Assim, como fiel admiradora e leitora assídua dos escritos do, hoje professor, Vlademir Passos, é imperioso noticiar suas sábias e pertinentes palavras:

Não me parece que a vaidade, dentro de limites razoáveis, seja um mal. O problema começa a existir quando ela extrapola tais limites. E — sejamos francos — nos meios jurídicos isto não é raro. Mas, curiosamente, a vaidade jamais é reconhecida. Todas as ações vêm acompanhadas da justificativa de que a atitude se fundamenta na defesa da classe, da instituição ou algo semelhante. A frase clássica é: “não é por mim, eu nem ligo, mas não podemos permitir que nossa classe seja rebaixada”.

Em 2012, ao ler esta matéria, fiquei reflexiva, vez que estava em menos da metade da graduação e pensei, inclusive em dar um basta e mudar de rota. Todavia, como não recuo sob hipótese alguma, mesmo com evidências precisas que o labor jurídico não é algo pleno, mas tormentoso, insisti em permanecer na graduação, fazendo a diferença, afinal ser diferente é uma característica de minha personalidade desde a meninice e sequer me arrependo de ser exatamente assim.

Ao ler, boquiaberta, uma notícia deste cunho, não posso deixar de relembrar dos escritos do professor Vlademir Passos de Freitas que encerra a matéria com as seguintes colocações:

Conta-se que Júlio César, o grande Imperador de Roma, ciente de sua própria fraqueza, cuidou bem do tema. Nos momentos de glória máxima, quando César voltava a Roma e era aplaudido pelas conquistas nos campos de batalha, tinha sempre ao seu lado um antigo e fiel escudeiro que dizia: “Lembre-se de que você é apenas um homem”.

Em suma, o que cada um tem a fazer é procurar colocar a vaidade dentro de um círculo fechado, impedi-la de crescer, fiscalizá-la sempre. Se ela não prejudicar terceiros, pode até ser útil. Por exemplo, não há nada de errado no fato de um presidente de subseção da OAB querer fazer um bom mandato para legitimar-se a disputar uma vaga como Conselheiro.

Nisto tudo não será demais lembrar que os vaidosos extremados, aqueles que se tornam arrogantes, acabam se isolando, sendo ridicularizados, e quando os anos lhes trouxerem os cabelos brancos, as pílulas contra isto ou aquilo, o desprezo silencioso daqueles que antes o bajulavam, só lhes restará a solidão amarga dos esquecidos. Aí será tarde demais.

Os anjos clamam: Amém, professor!

Matéria de minha autoria, veiculada originalmente no JusBrasil link

http://ftimaburegio.jusbrasil.com.br/artigos/204351554/um-deus-que-come-farofa-e-linguica-o-comico-e-triste-caso-de-um-juiz-do-df-a-feia-e-va-vaidade-humana?ref=news_feed

Matérias citadas no texto:

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/07/02/interna_cidadesdf,488720/juiz-do...

http://www.conjur.com.br/2012-dez-16/segunda-leitura-vaidade-campo-fertil-profissoes-juridicas

Fátima Burégio
Enviado por Fátima Burégio em 02/07/2015
Código do texto: T5297169
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