O beija-flor

Certo dia, pela fresta de uma janela semiaberta do escritório, adentrou ao ambiente de trabalho um beija-flor. A ave, ao se ver cercada por mesas, armários, paredes e um número sem fim de parafernálias eletrônicas - incapaz de conceber que as pessoas ao seu redor estavam, na verdade, maravilhadas com tão ilustre visita - em pânico cego tentou, inutilmente, fugir por caminhos que não existiam.

Depois de vários rasantes e de algumas trombadas perigosas para sua própria vida, o beija-flor, finalmente, aquietou-se, repousando, cansadamente, sobre a moldura saliente de uma gravura que, ironicamente, retratava um vale de rosas, um banquete de néctar para esses diminutos seres.

Ao vê-lo parado, com cuidado, cobri-o com a palma de minha mão direita a fim de, se possível, capturá-lo e soltá-lo num ambiente seguro. O colibri não reagiu. Duro e completamente imóvel, caiu na minha mão sem que eu precisasse externar qualquer esforço para capturá-lo.

Coitado! Está morto!

Após expressar essas palavras recheadas de frustração, passei aquele ser imóvel para as mãos do Carlos, um colega de serviço que me o pediu. Ele começou a acariciá-lo, com a ponta do dedo indicador, na cabeça e na nuca. Acompanhei o colega com a ave até o lado de fora da casa onde havia um terreno com muitas árvores. Ao chegarmos à varanda, a avezinha abriu os olhos, girou rapidamente a cabeça para os lados procurando uma rota de fuga e, sem pestanejar, saiu voando, festejando a almejada liberdade alcançada.

Incrível! Até os beija-flores conseguem criar uma ilusão bastante convincente para sair de situações complicadas, quando se sentem em perigo! Quem diria que tão pequenino ser teria algo precioso para me ensinar naquela fria manhã de inverno?!

limalves
Enviado por limalves em 01/07/2015
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