A MANDIOCA DA MULHER SAPIENS

Um dia, como resultado de um arrocho fortuito, num sábado de carnaval, lá pras bandas da Saúde, nasceu mais uma criatura. Sem saber direito quem era o pai, a parturiente, depois de ver um certo discurso na televisão, não titubeou, tascou no desinfeliz nome de “Homo Sapiens”.

Assistindo, na TV, um tratado científico sobre as propriedades históricas da mandioca, soube que quem inventou a goma do tacacá foi uma índia de uma tribo perdida, que todos conheciam como “Mulher Sapiens”. Não foi por outro motivo que esse era o seu nome.

Quando ainda adolescente, “Mani”, manipulando uma raiz de mandioca, descobriu que de dentro daquilo saia um líquido viscoso, meio transparente, que deveria servir para alguma coisa útil.

Mexe daqui, espreme dali, balança acolá, e pronto, conseguiu retirar da dita cuja, o tal líquido ao qual, mais tarde, deram o nome de

“goma”, também conhecido como polvilho azedo, que viria fazer a felicidade dos amazônidas e, em seguida, da brasileirada espalhada por essa terra sem dono.

Ultimamente, temos visto a inflação de programas em que pululam “Chefes de Cozinha” alardeando seus quitutes até mesmo nos canais de TV por assinatura. Dentre eles, um francês meio abrasileirado falando um franceguês desabrido, ressalta as maravilhosas propriedades paladarísticas do tacacá.

Mas, voltando ao caso da “Mulher Sapiens”, foi justamente o cozinheiro do navio em que aportou por aqui aquele cara do filme “Como Era Gostoso o Meu Francês” que, desanimado com o que via na Terra de Santa Cruz, acabou conhecendo a mandioca brasileira e, por ela se apaixonou. Desde que provara o tubérculo, não mais desejava retornar ao seu rincão natal, em bairro parisiense de titulo nobre.

Pois foi, exatamente, esse cozinheiro francês que, conhecendo a história da índia Mani, acabou por nominá-la de “Mulher Sapiens”, tendo em vista a importância de sua descoberta para o futuro da culinária francesa, produto de ponta na cultura do seu povo.

A partir desse casamento entre o francês e a nossa mandioca, a goma do tubérculo passou a ser desejada por uma boa parcela da elite parisiense e, sua importância expandiu enormemente o conhecimento sobre as coisas importantes do Brasil, um país da América do Sul e a Agência “France Presse” cuidou de formar a opinião pública mundial sobre as propriedades da goma da mandioca dos brasileiros.

Em razão disso, uma autoridade local, em homenagem à mandioca, numa preleção cultural direcionada a índios e descendentes, aproveitando a deixa, referiu-se ao grande feito de Mani, reportando-se ao seu impoluto nome de “Mulher Sapiens”.

Considerando esse importante e histórico acontecimento, a parturiente não deixou por menos. Impressionada pela falação da autoridade, resolveu, na bucha: Se a palestrante disse que tem Mulher Sapiens, meu filho vai se chamar “Homo Sapiens” e vai descobrir alguma coisa que também esteja ligada à mandioca.

Andam dizendo, por aí, que numa segunda-feira dessas, viram Homo Sapiens, na Cinelândia, numa parada gay, brandindo uma enorme raiz de mandioca descascada...

Amelius
Enviado por Amelius em 26/06/2015
Reeditado em 26/06/2015
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