A VERDADEIRA HISTÓRIA DE SÃO JOÃO

(À minha avó-mainha, dona Regina, que vive dentro de mim)

Quando eu era criança, a princípio, escondida nos vestidos de chita, depois flutuando nas quadrilhas juninas, sem saber dançar, era levada. Minha avó era uma folclorista nata, e se realizava por meio do meu corpo franzido e da minha alegria em realizar os seus sonhos de menina: dancei pastoril, bloco carnavalesco infantil, escolinha de samba, e em Junho, fui matuta, sinhazinha, princesa, rainha... menos noiva... noiva não, aí já era demais!

Ela, minha avó, minha mainha, contava que na noite do dia 23 de junho, a mãe de São João colocava-o para dormir, nós, na terra, tínhamos que comemorar com bastante alegria o seu aniversário. Do contrário, esse menino de cabelos cacheados poderia acordar triste e acabar com o mundo jogando fogo pra todo lado.

Então, São João para mim era uma data de muita alegria e muito medo, ficava de coração apertado quando chovia e a festa era comprometida, tinha que ter fogos, fogueiras, balões, quadrilhas, forró... muito forró pra ninar o garoto. Se trovejava nessa dita noite, minhas pernas tremiam, era como se o menino pudesse a qualquer instante acordar e brincar de jogar fogo na terra.

O interessante era que minha avó não só contava-me essa história, mas ela acreditava piamente na narrativa. Eu também acreditava... Hoje as fogueiras queimam apenas dentro de mim, os fogos fazem festa em meu coração... Eu acredito em tão pouca coisa, eu acredito em quase nada.