MEMÓRIA EM PICOTES

Ainda lembro do encanto infantil, aquele que moldado pela simplicidade da época permitiu à criança mesmo de maneira singela, entre as brincadeiras inocentes e as tarefas inerentes a pouca idade, desenvolver o gosto pelo hobbie que tanto lhe apaixona desde então, adquirido de forma natural e espontânea como normalmente acontece na infância, cresceu e se estendeu a lhe acompanhar por décadas em sua vida, lúdica atividade, tão simples de início, mas que aos poucos foi se mostrando delicada, complexa e necessária de atenção extrema aos pequenos detalhes.
De um simples passatempo que de maneira rudimentar se iniciou, e por lacuna de anos as vezes relegado ao exílio trancado ficou em um armário quase esquecido, mas mesmo frágil nunca morreu, se manteve no silencio e na escuridão sabendo que a magia que exerce em seu dono é perene, como também é o legado que carrega, história retratada, memória do tempo gravada em sua face, minúsculas obras de arte emolduradas por picotes que atendem por selos... viajantes que instigam a imaginação de outras épocas... por onde andaram, que mensagens levaram, como tão frágeis resistiram as intempéries de quase 2 séculos, inúmeros segredos eles guardam, das mensagens estampadas à forma de impressão, das variedades e das emissões raras escondidas nas secretas filigranas (marcas d’água) visíveis apenas com produto adequado para não danifica-los, tornou-se uma verdadeira caça ao tesouro perdido o lúdico passatempo.
Longos caminhos percorreram, alguns remontam a mais de 170 anos desde a primeira emissão em 1843 em nosso território, o segundo País a adotar como forma de tarifário para postagens de cartas, os selos, que pela facilidade e velocidade da virtualidade foram perdendo espaço e se tornando quase desconhecidos de uma geração que se habituou com e-mails, torpedos, skypes e whats, os frágeis selos ainda sobrevivem por conta dos amantes por essa arte do colecionismo, na maioria senhores que já vivenciaram quase incontáveis primaveras e assim mesmo carregam consigo o brilho nos olhos pela descoberta ou aquisição de um tesouro que lhes faltava, tão fino e delicado, mas de tanta significância para quem coleciona, a cada peça adquirida um sorriso infantil brota aos lábios, filatelistas, sábios anciões culturais, alguns com mais de oito décadas de vida e que semanalmente tenho a satisfação de encontrar para com eles aprender a sorrir novamente como quando criança.