UM IMENSO SUSTO NO BAILE DE FORMATURA

MEU BAILE DE FORMATURA DO CURSO CIENTÍFICO

Essa história aconteceu em fins de 1966 ou início de 1967. Eu havia concluído o curso científico (um segundo grau destinado a quem gostava de ciências exatas) no Instituo de Educação Canadá ( em Santos) e haveria um grande baile de formatura no Clube Atlético Santista. Como formando, eu tinha direito a levar convidados. Meu pai possuia uma maravilhosa Vemaguete (uma perua, da marca DKW Vemag marca que não existe mais) de cor bordô com teto branco. Dirigir era uma experiência maravilhosa, numa época que nem todos possuiam carro. Assim que recebi os convites, falei com meu pai que iria utilizar a Vemaguete para ir ao baile. Após vários dias, minha mãe expôs as condições para ir ao baile usando o carro do papi: teria que levar três amigas minhas indicadas por ela, minha mãe.

Nós morávamos em São Vicente, na esquina de Rua Marques de São Vicente e a Avenida Capitão Mór Aguiar. Meu pai, capitão do exército aposentado, tinha um armazém de “secos e molhados” ( que será que quer dizer isso? Nunca descobri) no mesmo local. Eu trabalhava no armazém e ficava olhando as mocinhas do Colégio Naçõe Unidas. Na frente de casa passavam os bondes das linhas 2 e 22, que tinham ponto final na Av. Cap. Mór Aguiar, a uns cem metros do Praia Clube.

Em frente à nossa casa morava uma morena bonita chamada Vera e minha mãe era amiga da D. Osvaldina, mãe de Vera. Aos finais de semana eu observava a moça ir ao cabelereiro, se arrumar toda e sair com as amigas. Acho que com a Vera aprendi a ver que a vaidade e os cuidados com a beleza são inerentes às mulheres . Antes de morar nesse endereço, havíamos residido na Rua Jacob Emerich na parte alta de dua casas sobrepostas. Embaixo, moravam três irmãs de origem polonesa, se não falha a memória, de nome Wyslava ( que chamávamos Vigia), Olga e Irene que possuiam uma pequena loja de aviamentos (acho eu) onde seria a garagem da casa. Eram pessoas de ótimo nível, educadíssimas e estabelecemos uma amizade que até hoje guardo com muito carinho. Batíamos longos papos sobre assuntos diversos, sempre voltados para o lado da cultura, da educação.

Voltando ao baile de formatura, a condição para eu utilizar o carro era levar a Vera Gil, a Olga Tulik e a Irene Tulik ao baile. Apesar de ter uma amizade e grande consideração por elas, eu tinha 20 anos. Queria ir ao baile sózinho, tinha umas paqueras engatilhadas para encontrar e não estava em meus planos ir ao baile com amigas. Por se tratar de pessoas especiais, aceitei e agendamos tudo para irmos ao baile.

Chegado o dia, apanhei a Vera Gil, passamos na casa das irmãs Tulik e fomos para o baile. Chegados ao clube, estacionei o carro e marcamos de nos encontrar após o baile. O baile foi muito bom para mim, mas, devido estar com amigas, procurei não beber muito, mas me diverti bastante.

O Atlético localiza-se na Av. Washington Luiz (canal 3), na pista em direção ao centro de Santos. Saindo da avenida da praia, pega-se uma reta até o cruzamento com outra grande avenida, a Afonso Pena. Nesse local, existe uma curva acentuada, em forma de “S”. Hoje o local é cheio de semáforos, bem sinalizado. Naquela época o pavimento era paralelepípedo a curva era uma assustadora surpresa para quem não conhecesse o local. Nada de sinalização. Na pista contrária, sentido centro- praia, armavam uma barraca de frutas, que ficava na calçada beirando a pista.

Terminado o baile, dia amanhecendo, entramos no carro. Lembro que as moças engrenaram um papo animado sobre com quem tinham dançado, contando cada uma sua impressão sobre as roupas e outros assuntos femininos que, em nada, interessam a um cara de 20 anos, surfista e nadador, preocupado em chegar em casa e estar na praia até as 10 horas para pegar ondas. Liguei o carro e acelerei ao máximo cada marcha, até chegar na quarta. E na curva, quando o velocímetro atingia 80km/h. A curva do canal 3! Apareceu de repente e eu, motorista sem grande prática, segurei firme no volante, aliviei o pé do acelerador. A Vemaguete cantando pneu, as meninas gritando, e o carro indo ao encontro da barraca de frutas. Tudo isso em fração de segundos. Passei “lambendo” a barraca de frutas, quase atropelei o barraqueiro, mas consegui controlar o carro e colocá-lo na reta em direção à praia. Acho que foi a maior sensação de alívio que senti na vida. Ufa!

Após isso, fêz-se um silêncio sepucral no carro. Não se falou mais nada e entreguei cada uma em suas casas assustadas mas inteiras. Graças a Deus.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 23/05/2015
Reeditado em 29/06/2020
Código do texto: T5252341
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