DELAÇÃO PREMIADA

Se você (como eu) se espantou com a execução de traficantes na Indonésia, fique sabendo que, por muito menos, foi executado outro dia o ministro da Defesa da Coreia do Norte. Seu crime: dormir durante um desfile militar, supremo desrespeito ao líder supremo. Cochilou, morreu. Lá é assim. Condenações sumárias desse tipo não são novidade. Em 2012, um vice-ministro teve o mesmo destino porque consumiu bebida alcoólica durante um luto oficial de 100 dias. E ali perto, na China, altos funcionários públicos já foram condenados à morte por corrupção.

Agora, por licença poética, vamos imaginar as mesmas cenas no Brasil. Parlamentares que dormem durante as sessões do Congresso, líder político falando abobrinha de cara cheia nas solenidades e rios de dinheiro sujo transbordando em contas bancárias até na Suíça (lembre-se que só o Pedro Barusco devolveu 157 milhões - aliás um número, mais do que simbólico, autoexplicativo porque 157 é o artigo do código penal que qualifica o roubo). Não foi difícil imaginar tudo isso, foi?

Vamos supor agora que o gênio da lâmpada apareça na sua frente com três passagens de primeira classe: uma para a Indonésia, outra para a Coreia do Norte e a outra para a China. E com a seguinte charada: num desses destinos (e só se pode escolher um) você encontrará a outra parte da bolada desviada da Petrobrás, escondida numa prancha de surfe, num pacote de arroz ou numa cueca.

Qual destino você escolheria? A preferência de muitos, obviamente, é pelo recheio na cueca, know-how desenvolvido por brasileiros que não querem problemas com as autoridades alfandegárias. E mesmo se for pego no desembarque, você encontrará no menu dos escritórios de advocacia uma infinidade de opções como foro privilegiado, recurso extraordinário, embargos infringentes etc. Na pior das hipóteses, voltará para casa com uma tornozeleira eletrônica. Dizem até que, com o aumento da demanda provocada pela Operação Lava Jato, a Cartier vai lançar tornozeleiras de sua grife para a classe A. Muito chique.

Portanto, o problema não é aqui. É lá. Lá, num daqueles países, é que você pode enfrentar o pelotão de fuzilamento, possivelmente com a cueca cheia de ... outra coisa. Mas, por outro lado, quem não arrisca não petisca. E aí, vai encarar?

Enquanto você pensa na resposta, eu tenho a minha na ponta da língua. Eu proporia ao gênio da lâmpada um acordo de delação premiada (tá na moda...), acatando a sugestão de Manuel Bandeira. Eu trocaria as três passagens (e a promessa de fortuna que elas encerram) por uma passagem só de ida a Pasárgada. Muito melhor. Afinal, “lá, sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero na cama que escolherei.”

É o quanto me basta.

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 14/05/2015
Reeditado em 14/05/2015
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