O BURRO E A ANTA

Na fazenda, o Burro emplacava uma greve e discursava para os outros animais:

- Nós ‘merecemo’ melhores condições de trabalho!

Todos mugiam, relinchavam e cacarejavam como forma de apoio.

O Burro não era daquela fazenda. Tinha sido comprado de outro fazendeiro mais ao norte. Foi mais barato, pois mancava de uma pata, mas estava causando tumulto no sítio.

Convenceu todos a pararem suas atividades. A vaca se negava a dar leite e a galinha a pôr ovo. Os bois não puxavam mais o carro e o galo cantava só ao meio dia por pura pirraça. O Burro era o ídolo e o herói de todos. Justo e humilde, buscava o bem-estar no recinto.

Posteriormente, o Burro foi eleito presidente da fazenda. Através do suor do fazendeiro que arou a terra, plantou e regou, o burro colheu os frutos e administrou tranquilamente, dormindo em berço esplêndido. O galinheiro estava satisfeito, o celeiro e o estábulo também.

Havia um poço d’agua farto atrás da fazenda que dava de beber a todos os animais e regava todas as plantas. Astuciosamente, o Burro, tirando vantagem de sua posição, todo dia retirava alguns litros e guardava em um reservatório na Granja do Curvo. Com a ajuda de Zé Pigmeu, o Burro trocava a água por apoio na fazenda.

O Burro, em alguns anos, aumentou seu capinzal e passou a possuir outras fazendas e imóveis. Seu filho, o Burrinho, saiu de um zoológico e passou a trabalhar com o pai em diversos negócios, muitas vezes com laranjas.

Os pastores alemães da fazenda até farejaram o esquema, mas nunca pegaram o Burro no flagra. O Burro, de burro não tem nada.

O período do Burro como presidente estava acabando, e ele precisava indicar alguém em seu lugar. A Anta era a única companheira sem rabo preso, mas havia um problema: a Anta não sabia falar. A Anta não tinha carisma. Imagine a situação, o Burro ter que ensinar a Anta a falar!

O Tucano, que há anos só observava, disputou com a Anta e perdeu. Mas a fazenda está diferente. O moinho está quebrado. O leite está azedo. O diesel do trator está caro. O dragão tem queimado a roça e elevado o preço do milho, do arroz e do feijão. O poço está secando. E os cães estão chegando perto. Talvez foi até melhor para o Tucano nem meter o bico nisso tudo.

As formigas, que todos os dias trabalham carregando até 100 vezes os seus próprios pesos, foram às ruas mais de uma vez. Mas a Anta desconversa e coloca a culpa na fazenda do vizinho.

Todos já sabem: A vaca já tossiu e a Anta vai servir de bode expiatório para a volta triunfal do Burro astuto em um domingo de ramos.

Mas os cães estão cada vez mais próximos e continuam farejando, e o sítio tá pegando fogo...

E no meio disso tudo, quem vai pro brejo não é a vaca, é o Brasil.

Luiz Otávio Boeing Vieira
Enviado por Luiz Otávio Boeing Vieira em 08/05/2015
Reeditado em 18/02/2016
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