Ofélia,Georgina e Jandira




Pobre do Nietzsche que afirmava: “Inventamos a felicidade”, dirão os derradeiros homens,a piscarem os olhos uns aos outros ...
Quanto mais,mergulhamos no pensamento analítico,mais tornamos incrédulos,pessimistas e,principalmente surdos e cegos ao Maravilhoso que nos acerca.
Prezado leitor,esta crônica está longe de realizar um ensaio filosófico sobre o sentido da vida,mas,entendo a perplexidade de quem lê o título que cita nomes femininos indagaria sobre a possível ligação.
Da mesma forma,me apresso em dizer que a Ofélia não é a personagem de Hamlet que inspirou,ao longo dos anos,o comportamento feminino,nem da reclusa Georgina do conto de Almeida Garret “Viagens a minha terra” que tenta sublimar suas frustrações amorosas e muito menos,a doce Jandira que fora prometida,virgem à Ubirajara que a despreza em favor de Araci.
Mais uma vez,prezado leitor ,afirmo que não estou puxando latinha de goiabada como se carrinho fosse...
A historia começa ao chegarmos em nossa casa em Friburgo num dia frio de Outono .
As personagens,em verdade,são três cadelinhas que fizeram calorosa recepção,cada uma a seu tempo.
A Ofélia,uma basset preta com seu corpinho longo se aproximou de nosso neto Gabriel que correu em sua direção,levando a uma grande tensão de como seria este encontro inusitado.Gabriel ,na altura de seus cinco anos,jamais vira Ofélia,mas,não fez por menos;Sentando na grama,acolheu a cadelinha no colo que,meigamente,cerrou os olhos com o carinho infantil.Diria,talvez,ter sido um reencontro de dois seres que "não se conheciam"...Aquela imagem poderia ser comparada a um quadro do grande pintor Rubens!O tempo parou imediatamente e lembrei-me,novamente do pessimismo de Nietzsche que talvez,jamais,acariciara a cabecinha de um cachorro.Não demorou muito e,com gestos contidos,elegantes,a meiga Georgina uma tataraneta d’alguma pastora alemã acompanhou o nosso devaneio ante a cena inusitada.Georgina nada pedia,apenas,nos observava parecendo fixar em sua retina as figuras dos estranhos visitantes.Meus amigos leitores,a paz,contudo,foi interrompida com a chegada da Jandira,a mais pura vira lata com sua pelagem alva,tendo o focinho marrom.Tratava-se de uma levada criança que exigia da amiga e de todos toda sorte de folguedos infantis.Corria a nossa volta,desaparecia sob os ciprestes e retornava com entusiasmo indisfarçado.No auge de sua alegria,projetou nas águas gélidas do riachinho. Imaginem que a temperatura beirando 8 graus,o quão fria estaria a ribeira.Tal fato provocou risos incontroláveis e uma onda de felicidade invadiu o ambiente bucólico.
Não percebéramos que Ofélia,já não,mais, estava conosco ,pois,carecia amamentar sua ninhada.
Ah!Meu prezado Nietzsche,a felicidade não precisa ser inventada,pois,se encontra na simplicidade do olhar duma Georgina,na peraltice da Jandira ou na profunda união entre uma criança e um cachorro...