As Cores da Estação Rodoferroviária de Curitiba

AS CORES DA ESTAÇÃO RODOFERROVIÁRIA DE CURITIBA

No final dos anos 60 e início da década de 70, Curitiba era uma cidade, apesar de ser capital, provinciana. As pessoas perguntavam qual era a sua família e a sociedade era fechada. Até que um, na época, jovem urbanista chamado Jaime Lerner assumir a prefeitura. A cidade começou a mudar de cara visivelmente com as inovações implantadas por Lerner e sua equipe. Eu trabalhava nas obras da nova Estação Rodoferroviária e era engenheiro da URBS, a empresa de urbanização de Curitiba. A nova administração, que havia substítuido a gestão do prefeito Omar Sabbag, efetuou diversas alterações e adequações no projeto original de modo a melhorar a funcionalidade da Estação. Como diretor técnico da URBS assumiu um arquiteto chamado Cássio Taniguche, que era meu chefe direto e começou a definir diversos parâmetros para o início de operação da mais importante obra da prefeitura curitibana. Cássio vinha a obra todos os dias, supervisionar os trabalhos e esclarecer detalhes de arquitetura da obra.

Às vésperas da inauguração, Cássio veio à obra comunicar quais seriam as cores da Estação: azulão e laranja. Pediu que eu chamasse o pintor da Construtora Pussoli, empresa responsável pela execução dos serviços.

Chamei o Pedro Pintor, era assim que o chamávamos. Lembrava realmente um antigo personagem chamada Pedro de umas histórias em quadrinhos que vestia umas roupas largas e usava um bigode a la Nietzsche, cobrindo a boca. A parede da entrada deveria ser pintada na cor azulão (um azul pouca coisa mais clara que o azul marinho). Pedro não sabia que cor era aquela. Por uma incrível coicidência, Pedro vestia uma camisa exatamente da cor que a parede tinha que ser pintada. Cássio orientou o pintor: "-Pinte essa parede da cor da sua camisa". "-Amanhã à tarde estará pronto o serviço.", respondeu Pedro. Dia seguinte após o almoço, Pedro veio à minha sala comunicar que a parede estava pintada. Sem ver o trabalho, liguei para Cássio, que falou que estava vindo para ver como tinha ficado a parede pronta.

Meia hora depois, chega Cássio e fomos verificar o trabalho. A parede estava pintada de azul piscina, aquela cor que é azul mas parece verde. Eu gelei, Cássio ficou muito furioso. Imediatamente chamei Pedro. "-Por que essa parede está dessa cor?!". "Ué, o senhor não mandou pintar da cor da minha camisa? Pode conferir." disse Pedro, mostrando a camisa que, lógico, não era a mesma do dia anterior, e era da mesma cor da parede. Cássio explodiu, deu uma bronca em mim e em Pedro. Expliquei novamente qual era a cor e Pedro passou a noite pintando a parede na cor certa. Dia seguinte, após verificar se estava certo, chamei novamente o Cássio, que, dessa vez, aprovou o trabalho. Cássio Taniguche, anos depois, viria a ser prefeito de Curitiba por duas gestões.

Santos, 03 de maio de 2015.

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Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 03/05/2015
Reeditado em 26/09/2021
Código do texto: T5229545
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