Das coisas de Luíza I

Fazia um frio imenso naquela hora, mas isso ainda é agora. Faz tanto frio. Se escolheu aparecer neste dia de mudanças e violências, então que seja assim.

É engraçado enxergar a multiplicação da vida, ainda mais tão próxima de nós. Me lembro de teu pai fazendo coisas bestas e absurdas, tontas e insensatas, mas me lembro de meu irmão fazendo coisas engraçadas, atrapalhadas como a vida pedia, e que ainda pede.

Hoje, neste momento de desesperança asiática, brutalidade paranaense, tristeza e choro, alegria e temor, medo e esperança, tudo isso se conecta, formando o ato único que abre e fecha a vida: o sopro.

Ao abrir os olhos, não espero que veja a luz, não precisa, pois ela é quem verá você.

Hoje faz tanto frio que a tua vinda é como um cobertor, ou quiça a linha que precisa reparar os buracos e pontos rotos desta manta vital.

Eu queria conversar com você, mostrar toda essa bobagem que é o mundo nosso, mas não posso fazer isso. Guardo comigo a chave do meu mundo, e esta não tem cópia. Portanto, espero que me mostre o mundo, o teu.

Agora vem a chuva fina e gelada, e imagino que teus olhos ainda não estejam preparados para tal. É tempo de se proteger, de sentir o chão; tempo de vir e chorar; tempo de rir e dançar. É tempo de lembrar e esquecer; perdoar e sobreviver. É um tempo bíblico, humano, gelado. É o teu tempo.

29/04 - 12h04.