Da Solidão

A solidão pode fazer sangrar amargamente um coração, e ela pode ao mesmo tempo cauterizar nossas feridas mais profundas. A solidão é matéria  composta num universo de sujeitos indeterminados e cômodos! Optar por estar só em determinadas ocasiões é uma condição muitas vezes benéfica e total mente compreensível. Nem sempre estamos dispostos a compartilhar palpites ou segredos. E é comum que de vez em quando enjoemos dos amigos e clichês da mesma forma como nos enjoamos de sorvete, pizza e brigadeiro. Mas, sabemos que logo bate a saudade,  que os amigos são essenciais e que sorvete, pizza e brigadeiro fazem parte da dieta.  Enfim, o fato é que algumas vezes, os momentos de solidão são os que nos permite encontrar respostas,  ocultadas pela nossa frenética rotina e pelo nosso ego exacerbado. Muitas vezes, é no silêncio da solidão que encontramos, ou melhor, que obtemos os melhores conselhos, dados por nós mesmos num movimento de introspecção ao tentar nos regenerar de algo que tenhamos feito e  desaporovado quando revemos o vídeo. Nossa consciência costuma visitar lugares escuros com frequência nos momentos de solidão e então nos deparamos com um material de tortura totalmente desnecessário, nos julgamos e nos condenamos a duras penas, nos tornamos nosso próprio carrasco, mas, esse efeito nos constrói a seu modo. Só precisamos entender que essas circunstâncias, requerem,  também, sensatez e perdão.  Precisamos nos desfazer das velharias, dos móveis empoeirados e mofos, dor artefatos antiquados, e dos álbuns de memórias inconvenientes e perturbadoras. Por isso, entra aqui, o outro lado da solidão. O "ser só". Esta face da solidão é diferente e destrutiva. Ser só, é sempre silêncio, amargura, e nunca compreensão. Ser só não nos permite viver para desfrutar dos amores platônicos, das paixões avassaladoras, das decepções que frustram e despertam um ódio passageiro (e totalmente bobo mais tarde), das alegrias infinitas, das angústias sufocantes, dos sorrisos envergonhados e gargalhadas extravagantes, dos apertos  de mãos calorosos, dos olhares que se cruzam e se encaixam a primeira vista, das juras secretas e dos beijos roubados, das canções que descrevem nossa vida, das cartas ou e-mails trocados, das ironias dos colegas de trabalho, das festas aos fins de semana, das horas que sempre se arrastam nas horas em que temos pressa, dos acessos de fúria em razão do tempo, das contas (que ao fim do mês, não fecham), dos sonhos enumeradas em ordem crescente e decrescente, dos tratados e metas que enfim, nos define como gente. Ser só,  é não ser capaz de visitar os porões da consciência e fazer uma reciclagem, de fazer esse movimento de introspecção e descobrir que os momentos de solidão, na  verdade são para nos permitir enxergar que "ser só" é não estar vivo e sim morto, mas,  sem perceber. Quando se escolhe "Ser só" não se encontra conforto ou asilo, além do mais, corre-se o risco de ser enterrado sem choro nem velas, sem flores ou se quer epitáfio. Assim, volto a repetir que a solidão é uma matéria composta num universo de sujeitos indeterminados e cômodos, estar só é um direito nosso, porém escolher "ser só" é um atentado a própria vida, pois no fim das contas precisamos uns dos outros, são as pessoas que conhecemos e os amigos que temos que nos prestarão homenagens quando morrermos e que contarão nossa história (exagerando, de quando em quando, nos detalhes) evitando assim que jamais sejamos esquecidos.

Héryton Machado Barbosa
Enviado por Héryton Machado Barbosa em 20/04/2015
Reeditado em 21/04/2015
Código do texto: T5214082
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