CRÔNICA DE UMA AULA ANUNCIADA (O DIA EM QUE NÃO DEI AULA)

Após o sinal de entrada dos alunos, caminhei até a porta da sala. Era o 1º colegial H.

Um a um eles entravam. Neste lengalenga, somente depois de cinco minutos é que todos estavam dentro da sala.

Coloquei meu material na minha mesa. Giz, apagador, caderneta e minha apostila particular, com o conteúdo feito na base da experiência de mais de quinze anos de magistério.

Depois de muito bate-papo, na tentativa de acomodá-los cada um em seu lugar e em silêncio, missão esta que durou dez minutos, eu comecei a chamada.

Entre faltosos e presente, a chamada durava uns cinco minutos, pois até que um pai, acompanhado de seu filho, bateu à porta da sala, interrompendo a chamada, alegando que trazia ao filho pois o mesmo perdera a aula pois fora dormir tarde porque estava assistindo o Big Brother na TV por assinatura. Terminei a chamada. Matematicamente, lá se foram vinte minutos de aula.

Dirigi-me ao quadro-negro pronto para começar a expor as tarefas do dia, um organograma revelando o conteúdo e as atividades propostas.

Nisto, alguém bate à porta. É a Coordenadora pedagógica que veio para dar um recado. Um esclarecimento sobre a data da reunião de pais e mestre, recado este que, nós professores, já havíamos passados aos alunos em um bilhete, bilhete este feito e mandado entregar pela própria Coordenadora Pedagógica. Mais dez minutos da minha aula foram “pro” saco.

Quando estava para explicar o organograma, um senhor carrancudo, de bigode e poucos fios na cabeça já lustrada pelo tempo, pede licença e começa a chamar o nome de alunos que tem livros emprestados junto à Sala de Leitura. É o dia da devolução. Mais dez minutos perdidos.

Bem, já era tempo de começar a "trabalhar".

por precaução, e para facilitar, deixei a porta da sala aberta.

Enquanto fui chamar a atenção de dois alunos que estavam se estapeando lá no fundo da sala, a Professora Mediadora, imaginando que não havia Professor na sala de aula, adentrou-se e começou a chamar por dois alunos que haviam brigado na saída do dia anterior. Vendo que ela, sem saber os nomes dos envolvidos e procurava a esmo, passei a mão no meu material e sai da sala. Naquele dia, naquela aula, naquela sala, eu queria trabalhar, mas não me deixaram!

Jonas De Antino
Enviado por Jonas De Antino em 19/04/2015
Reeditado em 22/10/2018
Código do texto: T5212932
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