SER INVISÍVEL

Por que será que tanta gente gostaria de ser invisível em um dado momento de suas vidas? Essa é uma pergunta que, ocasionalmente, me faço. Afinal, esse desejo não é apenas uma aspiração do mundo moderno, pelo contrário, é um sonho antigo da humanidade, presente em diversos povos e culturas.

Será que as crianças ambicionavam ficar camufladas porque assim poderiam ouvir as conversas dos adultos? As tais que nunca podiam presenciar.

Será porque os pré-adolescentes não teriam que cumprimentar, nas reuniões de família, aqueles parentes chatos que faziam questão de dizer o quanto haviam crescido durante o ano enquanto davam uns tapinhas nos seus cucurutos? Ou aqueles que agarravam as suas bochechas e as apertavam?

Será porque os alunos queriam evitar serem notados pelo professor de matemática? Aquele que adorava chamar seu nome para ir ao quadro resolver uma horrorosa equação de segundo grau. E você ficava ansioso, se imaginando de pé, tremendo na frente de todos, olhando para aquele bicho de sete cabeças sem saber por onde começar.

Será que a razão era para uma certa garota não dar vexame nos bailinhos de sábado à tarde? Sim, porque se algum menino a convidasse para dançar junto, em pouco tempo, todos descobririam que até um poste teria mais gingado do que ela.

Será que o problema teria a ver com aquele filme proibido para menores de dezoito anos que alguém não pôde assistir porque foi barrado? Sua carteirinha era tão fajuta que até o porteiro do cinema riu!

Será que era uma maneira da moça ciumenta passar despercebida e acompanhar o namorado, que saíra apressado justo na hora em que a vizinha do apartamento 101 também fora à rua? Teria sido mera coincidência ou não? Ela nunca conseguiu saber.

Será que o motivo era para a mulher descolada ficar sempre por dentro das fofocas da faculdade, da vizinhança ou do trabalho?

Sei que as pessoas ainda têm inúmeros motivos para desejar a invisibilidade. Uns seriam tolos e pueris, mas outros poderiam ser antiéticos, como por exemplo, obter a senha de um cofre, saber dos podres dos outros para poder chantagear, tirar uma foto do gabarito de uma prova, ver a intimidade alheia, e por aí vai.

O que me espanta nisso tudo é que sempre pensei que ao tornar-me adulta, essa vontade deixaria de existir dentro de mim. Ledo engano. Ainda hoje tenho as minhas fases, porém ao que parece, não sou a única que anseia sumir de vez em quando. Será que Freud também se sentia assim?

Beth Rangel
Enviado por Beth Rangel em 18/04/2015
Reeditado em 18/04/2015
Código do texto: T5211111
Classificação de conteúdo: seguro