Os três Jardins

Ao refletirmos sobre o significado da Páscoa, vem-nos a memória a surpreendente história de Jesus Cristo, que povoa nosso imaginário há mais de dois mil anos. Vemos o maior sacrifício que a humanidade em toda a sua trajetória já presenciou. Não há palavras para explicar tão amor.

Mas ao refletir sobre esse dia tão especial, em minha mente algumas perguntas se formam: "Por que o Criador de tudo que existe se preocupou com uma raça de seres humanos rebeldes, que vivem numa partícula de pó chamada Terra, num canto distante do seu universo?". "Por que os transformar em Seu objeto de dedicação?". Para a minha mente limitada (assim como de todo mundo) é incompreensível, mas tudo o que se fez foi mediante o AMOR, divino, mais vasto - e especifico - que a compreensão.

O mais impressionante é que alguns declaram que não há Deus ou até mesmo que Ele é injusto, porém que Deus é esse que ama incondicionalmente uma raça que O renega a ponto de sacrificar-se? Não seria mais fácil recomeçar? Destruir o mal e o pecado e tentar novamente? A resposta é não! Sabe por quê? Porque Ele nos ama.

Talvez o mais surpreendente é que Deus nos criou; criou o planeta Terra sabendo o tempo todo que a humanidade iria assassiná-lo. Mesmo assim amou-nos. A natureza egoísta de todo ser humano revela claramente nossa culpa nessa ação. Na realidade, toda vez que demonstramos os impulsos violentos contra a natureza ou com o próximo, mostramos a Deus que se estivéssemos no lugar de Adão, também teríamos rebelado.

É muito triste este pensamento, no entanto, é a verdade. Uma maneira de compreendermos essa terrível verdade é voltarmos na história através da imaginação. Feche os olhos e tente (Ou melhor, não feche, pois como irá continuar lendo? Mas reflita ao ler). Vamos aos três jardins da discórdia: Éden, Getsêmani e Golgóta. Veja o que fizemos...

Deus sorri ao nos mostra a magnitude do Éden recém-criado, saindo de suas mão, projetado com todo amor e carinho para nós. Contudo, demonstramos nossa gratidão tratando-O de tal maneira que Ele já não podia suportar. Chegou a suar gotas de sangue no Getsêmani enquanto agonizava e clamava socorro ao Pai. Agarramos ao Mestre pelo pulso e cuspimos em Seu rosto. Caçoamos dEle ao empurramos uma coroa de espinhos e saudá-Lo como um rei, batendo em Sua cabeça, cravando em Sua nobre face os espinhos.

Mesmo assim escolheu nos amar. Desprezou Sua majestade no Céu e até mesmo a Sua vida simples na Terra para morrer por nós. Ama-nos com um amor incompreensível. Ama-nos até a morte. Por isso, a Páscoa deve ir além dos ovos de chocolate, compras, coelhinhos. A Páscoa é um momento de reflexão, de ter mais tempo com a família, de fazer gentileza e distribuir amor ao próximo.

Açoitamos suas costas até o sangue jorrar livremente. Rasgamos suas roupas para lançar a sorte. Agarramos aquelas gentis e poderosas mãos que nos moldaram do barro e tantas vezes nos abençoaram transpassando-as com enormes pregos empurrados por um martelo gigante num grotesco madeiro, amarrando-O como um espantalho. Ao imaginar essas cenas, constado que fui eu quem O preguei e fui eu quem O abandonei.

Jesus, que com Suas palavras trouxe a existência milhões de mundos, que abençoou e pregou à multidões, que cuja a ordem mobilizaria milhões de anjos e cujo o olhar nos reduziria a pó e vapor, grita em angústia: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23:34)."

Penduramos em Gólgota o nosso Deus entre o céu e a terra, preso na cruz por pregos através das mãos e pés. E aqui estamos nós, contemplando a terrível cena, a dor que Cristo suportou! Aqui estamos nós, sabendo que nós é que deveríamos ser pendurados na cruz!

Nós é que somos os culpados, foram os nossos pecados que pregaram-nO na cruz. E nossos pecados diários ainda pregam Jesus na cruz do mesmo modo que as mãos daqueles cruéis líderes e o povo que clamava por Seu sangue fizeram há dois mil anos. Assim como Adão, Eva, Caim e Abel, nós ainda queremos fazer as coisas da nossa maneira em vez de submeter a nossa vida à vontade de Deus. Esse egoísmo ainda O corrói como os terríveis espinhos e enterra a lança no Seu lado. O peso dessa terrível culpa que O dilacera por dentro deveria ser nosso, não dEle.

Ele, porém, está ali... Pendurado numa cruz em nosso lugar. Sofrendo a dor do afastamento que o pecado gera, longe de ver a face do Pai. Pendurado por nossos pecados - não, por meus pecados! Ele está morrendo por mim! O reconhecimento de meu crime me leva ao desespero, à profunda tristeza pelo que fiz e faço, ao desespero pelo que sou.

E Deus me perdoa. Ele sorri para mim do mesmo jeito que sorriu um dia para Adão. Em seu olhar eu vejo o amor! Ele me toma em Seus braços de amor e me chama de filho.

Sim, Ele tomou sobre Si o meu castigo. Aquilo que eu merecia por minha rebelião. Foi pendurado entre o céu e a terra. Tomou meu lugar. Carregou meus pecados. E agora me perdoa. Me ama profundamente e Ele me perdoa.

O que nós fizemos? Não é uma pergunta relevante. O que Deus fez? Olhe para cruz...

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 03/04/2015
Código do texto: T5193374
Classificação de conteúdo: seguro