O CHEIRINHO DA LOLÓ

Babal era um sujeito prá lá de compenetrado. Cuidava dos seus afazeres com cem por cento de dedicação e mais cem por cento de acerto. Era um trunfo na Sessão e seus superiores o tomavam como exemplo. Seu nome sempre era citado nas reuniões em que havia preleções, instruções, orientações, etc...,

Sim, seu nome! Nunca o chamavam de Babal, apelido carinhoso que a família lhe dera, desde a infância. Babal era uma corruptela afetuosa para o nome de batismo, Asdrúbal.

Quase ninguém entendia o motivo desse raio de nome! Que coisa mais esquisita, diziam os mais afoitos. O caso é que seu Veloso, o pai, um pouco antes do casamento ficou vidrado numa peça teatral cujo elenco era nominado de “Asdrúbal Trouxe o Trombone”.

Na época em que esse grupo fazia sucesso corria o ano de 1970 e não era difícil serem encontrados, nos jornais, artigos de um quarto de página, cheios de elogios, partidos dos implacáveis críticos teatrais.

Por esse motivo, seu Veloso resultara antipatizado no edifício em que morava. Pela afeição ao grupo teatral, por tabela, um dia apareceu em casa com um trombone embaixo do braço! Não mediu elogios ao instrumento. Para todo mundo fazia questão de explicar que era um “trombone de vara”! Trombone de macho! Estava decidido a aprender a tocar.

O diabo é que o síndico do prédio já perdera a conta das reclamações que lhe assestava, a vizinhança. O raio do Veloso, volta e meia estava enchendo o saco do mundo assoprando aquela droga de trombone de vara! Era uma aporrinhação tamanha que, de vez em quando, ouvia-se ecoando, pelo miolo do edifício, em alto e bom som, algum berro de “filho da putaaaaaaaaaa”!

Nascido o primeiro filho, nem discutiu. Já foi batizando o pobre pagão de Asdrúbal o que iria confirmar, na pia batismal, com o Pe. Souza, na Matriz da Glória.

Explicada a razão do apelido de Babal, voltemos a essa personagem que, nessa altura dos acontecimentos já era rapaz feito, nas vésperas de casar. Babal trabalhava em uma dependência da polícia civil e não havia nada que pudesse lhe atacar a conduta, por todos, considerada irrepreensível.

Babal já contava os dias para o casamento e estava ultimando os preparativos para a festa e a viagem de lua-de-mel em um hotel-fazenda muito badalado. Já havia entregue os convites, principalmente os dos seus superiores e colegas de repartição.

A noiva de Babal era uma morena de tirar o chapéu. Nenhum defeitinho a ser considerado e era uma fonte permanente de azucrinação à libido da rapaziada conhecida e desconhecida. Alguém chegou a dizer, à boca pequena, que até o Pe. Souza, quando via a moça passar, certificava-se de que não havia ninguém na área e cravava os olhos naquela bundinha linda, escorregando os sentidos lá pás bandas dos pecados contra a castidade.

Babal era muito reservado quando se tratava da noiva e não se abria com ninguém do trabalho sobre suas intimidades com ela. O nó de toda a história é que Babal tinha um grude todo especial num cheirinho que a menina tinha e que era algo de deixar o pobre a ponto de cometer um atentado ao pudor.

A musa do nosso herói tinha o nome de Heloísa e seu noivo, carinhosamente passou a tratar desse seu ponto fraco como “o cheirinho da loló”.

Na semana do casamento, Babal escreveu um bilhetinho amoroso destinado à sua musa e estava programado a entregá-lo após a cerimônia, ao entrarem no aposento nupcial do hotel pretendido. No bilhete, dentro da carteira, estava escrito: “De hoje em diante, viverei doidão! Terei, sempre, em casa, meu delicioso cheirinho da loló!”.

Faltando dois dias para a festa, o noivo e os colegas estavam reunidos em uma boate, na maior farra, onde rolavam vários tipos de bebida, música e é claro, mulheres, todos já pra lá de Marrakesh.

Lá para as tantas da madrugada, Asdrúbal estava com a cara esparramada em cima de uma das mesas, praticamente inconsciente. Havia amarrado um senhor porre, perdendo os sentidos. Os colegas que ainda estavam mantendo algum resquício de sobriedade cuidaram de levar o pobre para o hospital da corporação. O nível da intoxicação etílica era tamanho que o pobre foi parar na UTI, de onde não mais saiu.

No necrotério, examinando as coisas do defunto, encontraram, em sua carteira, um papel em que estava escancarado o vício do rapaz! Não deu outra. O boato correu de boca em boca na rapidez de um relâmpago: “O Agente Asdrúbal morreu por overdose de cocaína”! Ninguém nunca desconfiara mas, o safado era viciado em “cheirinho da loló”!

Aquilo, caiu como uma bomba nos domínios da polícia civil. Como acreditar que o Agente Asdrúbal tido como exemplo, fosse um criminoso, viciado e traficante. Traficante, logo de cocaína! Isso era de mais! Com o escarcéu dos jornalistas, o Chefe de Polícia mandou reunir todos os delegados para determinações de segurança interna e observação mais acurada do comportamento dos agentes...

Não houve casamento e Heloísa continuava fazendo o Pe. Souza dar nó no pescoço. Escondido atrás de um poste o capeta, pensando, se esborrachava de rir! Só quero ver quando esse descobrir o cheirinho que ela tem!

Amelius
Enviado por Amelius em 30/03/2015
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