CUECAS E CALCINHAS

Lançada a moda do dinheiro na cueca em 2005, tivemos a versão feminina no ano passado, com a apreensão de uma bolada na calcinha da doleira Nelma Kodama. No primeiro caso foram 100 mil dólares. Agora, 200 mil euros. Considere-se o efeito da inflação no período. Por outro lado, a moeda europeia é mais chique, tem mais charme e, portanto, melhor aderência na pele da mulher. Dólar – Nelma deve ter pensado – é para os turistas de primeira viagem, os muambeiros e os que atravessam clandestinamente as fronteiras do Tio Sam. Além do que, seria de muito mau gosto ter a cara do George Washington fuçando suas partes íntimas.

Com a doleira também foram apreendidas algumas obras de arte e – a cereja que não poderia faltar - um Porsche, carro que foi arrematado outro dia por R$206.000,00. Aí, eu fiz as contas: com a cotação do euro acima dos três reais, 200 mil euros comprariam três carros iguais. Ou seja, quando foi detida no aeroporto de Cumbica, a mulher tinha entre as pernas três Porsches, que pretendia levar para a Itália sem pagar taxa de embarque, imposto de exportação ou excesso de bagagem. Ora, nem a “perseguida” da Xica da Silva, que escondia os diamantes do contratador João Fernandes, valia tanto.

Outra curiosidade: Como o cofre improvisado da moça conseguiu acomodar tanto dinheiro sem prejuízo de seus movimentos básicos? Afinal, 200 mil euros são, no mínimo, 400 cédulas de quinhentos. Montes de papéis clandestinos escalando o monte de vênus ou comprimidos num minifúndio de poucos centímetros quadrados (e, quem sabe, redondos), suas dobras e reentrâncias. Isto, presumindo-se que a calcinha cobre uma área menor que uma cueca. Mágica ou malabarismo?

É meu absorvente – ela teria dito quando a agente apontou o volume "inter femura". Não colou. Em outros tempos ela poderia ter usado um cinto de castidade para blindar a bufunfa e engolido a chave do cadeado, que só ia reaparecer depois do desembarque. Ou não – pensando bem -, porque em outros tempos ela poderia desembarcar na fogueira.

De qualquer forma, fica comprovado que a criatividade do brasileiro não tem mesmo limite, para o bem e para o mal. Mas, neste caso, para ser sincero, eu não achei graça. A anatomia da mulher não foi feita pra isso. Definitivamente, não. Na evolução da espécie, esse oásis feminino, confluência dos prazeres e fonte da vida, tem um papel mais elevado do que servir de covil para os frutos do crime. Um tesouro assim, burilado desde a Criação, não pode ser conspurcado pela criatura para que lhe sirva de salvo-conduto em detrimento dos justos. Isso é desvio de função. Imperdoável.

E sem embargos infringentes.

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 24/03/2015
Reeditado em 25/03/2015
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