99

Prof. Holanda

Cajazeiras é uma próspera cidade do alto sertão paraibano. Limita-se com Ipaumirim, no Ceará e com outros municípios do Estado da Paraíba.

Lá, o comércio é bastante desenvolvido que abastece as demais cidades circunvizinhas. A economia principal é a agricultura, a agropecuária. Já foi um grande pólo algodoeiro.

O povo cajazeirense se orgulha, pois sua cidade é “o berço da cultura do sertão paraibano”. E não há exagero. Lá, está erguido no alto o Colégio Diocesano Padre Rolim. Essa instituição fora dirigida até metade do século XX pelos padres Jesuítas. Teve como aluno ilustre o padre Cícero Romão Batista. Outros renomados nomes, quer na política, quer nas letras, constituem orgulho para aquela Escola de formação cultural e cidadã.

Mas que 99 é esse? Será uma dezena que alguém acertou no jogo do bicho?

Cajazeiras, como muitas e muitas cidades deste Brasil afora, abrigava um tipo popular. Aquele personagem que sempre roubava a cena. Que quebrava a monotonia de um povo, às vezes, sonolento,

Havia nesse rincão paraibano a Toinha, a 99. Não sei o porquê desse número. Só sei que esse era seu apelido. E ai de quem assim a chamasse. 99, como toda “donzela juramentada”, na fala de Odorico Paraguaçu, aquele que foi o primeiro morador do cemitério por ele mesmo construído, tinha uma paixão. Um fogo a lhe queimar as entranhas. Paixão queima até a alma. Um amor que “arde sem doer”.

O felizardo desse amor era o Dr. W. “Não digo o nome pra não fazer confusão”. Eram assim as mensagens sonoras na voz da “radiadora”, nas grandes noitadas das quermesses da igreja.

Quem sabia dessa ardente paixão era o povo e a própria 99, opa, Toinha, pois já se declarara publicamente.

Mas o espírito moleque cearense parece-me ter encarnado no povo cajazeirense.

- Toinha, “tu num pode casar com o Dr. W. porque tu não é moça”, gritava a rapaziada.

- Eu sou moça, eu sou moça, “seus fios de rapariga”, eu menstruo três vez no mês. Quem houvera de duvidar, de contestar.

Porém o que mais tirava nossa personagem do sério, o que a transformava numa fera ferida e a transtornava era quando a molecada gritava por detrás dos muros das residências: - 99... 99...

Ela perdia a compostura. 99 é a mãe, seu filho de puta. ( essa palavra de quatro letras que representa uma das mais antigas profissões, era o escudo de defesa da honra de Toinha). E haja pedradas e mais impropérios em direção àquelas vozes insultantes.

De repente, as vozes silenciavam, e 99 desaparecia, ao dobrar a primeira esquina, ainda balbuciando baixinho: “é a mãe, é a mãe, seus felas da puta”. E a cidade retornava à sua rotina.

Raimundo de Assis Holanda Holanda
Enviado por Raimundo de Assis Holanda Holanda em 07/06/2007
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