À SOMBRA da CORRUPÇÃO em FLOR

Era meio-dia e as sombras dos poderes apareciam magras, alheias à vida no interior das fantásticas criaturas arquitetônicas que um dia anunciaram o compromisso brasileiro com o futuro.

À sombra da corrupção em flor, velhos marechais da Esquerda relembravam os tempos difíceis da resistência à Ditadura, que não devem ter sido tão difíceis, pois hoje os marechais estão nos anuários das Construtoras, entidades que se não anunciaram a falência de Deus, anunciaram a falência de Hegel, pois das Américas, além do narcotráfico, da miséria e do fantasma de Marilyn languidamente assassinada nos carpetes macios das multinacionais pós-dor-de-consciência, resta a criminalidade submersa na ética protestante do espírito do capitalismo.

Black-era-beautyfull quando os pretos não cismavam de descer da favela até a praia. O partido revolucionário do proletariado hoje é vagamente socialista, procurando alianças junto aos setores progressistas do Mappin, do Pão de Açúcar; ontem, o imperialismo sugava o sangue de grapete da classe operária nacional, agora a social-democracia brasileira fecha monopólio de telefonia celular no Nordeste associada àqueles que acusava de direita collorida.

Quanto custou o impeachment? Terá sido mero confronto de empreiteiras recém-chegadas ao tamanho adulto contra as mais velhas? (conflito de gerações?), para aquelas ocuparem os lugares destas? Que o digam os manuais de ética na política, pois neste país em que a esquerda é uma rasura nas certidões de filiação partidária (o mito Felipe Gonzalez abastece a fome de poder dos que estabelecem relações fraternas com as multinacionais e combatem e esfinge do imperialismo nipo-americano), a ética na política decorre do braço de ferro das extorsões corporativas praticadas no Congresso.

Outros, à sombra de Roberto Marinho em flor celebram o casamento de Marx e Milton Friedmann para que os pagadores de campanha paguem menos impostos (no fim, lulistas e fernandistas, PT e PSDB, são as duas faces da moeda da social-democracia brasileira), e, devemos confessar, há muito desejamos saber o que há nos palácios dos Barões da Ética, pois que estes, alheios à migração da mais -valia do braçal ao intelectual, são os pregadores evangélicos do contribuinte e do brasileiro médio em geral ( ou Engeral?).

27/07/2004