SONHOS PERDIDOS

Sempre tive uma dúvida: para onde vão aqueles sonhos que acabam não se realizando? Que, quando percebemos, é tarde demais, é inalcançável, ficou para trás?

Às vezes imagino que eles vão parar no chapéu do Saci Pererê, ou no espelho da Iara, ou até mesmo nos olhos da M’Boitatá. Talvez fiquem brincando de uma ciranda que gira sob o som de uma parlenda entoada pela Dona Carochinha.

Pode ser, ainda, que voem para longe, de carona em um disco voador e que possam ainda ser fotografados por algum satélite até sumirem por completo ao serem sugados por um buraco negro.

Mas talvez não se escapem para tão longe. Pode ser que fiquem logo ali em cima do fogão, bem ao lado do leite derramado. Adiantaria chorar pelo sonho perdido? Acho que não! É melhor mesmo limpá-lo e deixá-lo se ir com a água que escorrer do esfregão pelo esgoto. Será roído por ratos e baratas.

No entanto, o que eu mais acredito é que os sonhos não realizados estejam bem guardados para o caso de um dia voltarem a ser úteis. Eles provavelmente fiquem morando dentro de uma caixa sem tampa. Cada um deles ficará ali, bem no fundo, escondido, para sempre abraçado em sua irmã gêmea, a esperança.

Michele Machado
Enviado por Michele Machado em 03/02/2015
Código do texto: T5124665
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