Abstinência

A vontade passara, parece que dessa vez veio mais forte que a última. Conseguira resistir mais esta vez. Era assim mais ou menos de três em três meses, uma vontade sufocante de usar crack vinha em sua mente, não conseguia dormir direito, não rendia no trabalho, não conseguia se concentrar, ficava mal humorado. Tudo vai dar certo, usa só mais está vez, você consegue controlar, era o que vinha em sua mente quase que interruptamente, vou tomar só uma cerveja, não vai dar nada não, era o que sua mente dizia, tentando corrompe-lo. Sua última recaída começara assim, ao passar em um barzinho para comprar um maço de cigarros encontrara por acaso com um “amigo das antigas” e papo vai papo vem resolveu “tomar uma,” não conseguira mais para de beber, bebeu enquanto o bar estava aberto, ai resolveu passar na casa de outro amigo para “fumar um baseado”. Quando viu já estava internado de novo em uma clínica para tratamento de dependentes químicos. Desta vez jurara que seria diferente, já sabia onde era “seu ponto fraco”, frequentaria Narcóticos Anônimos, faria os doze passos, iria a igreja todos os fins de semana, tomaria seus remédios direitinho todos os dias. Mas mesmo assim, tinha dias que sentia que não podia nem sair de casa, tamanha era a sua vontade de usar nesses dias. Havia mudado muito desde a sua primeira internação, mudara o jeito de se vestir, o jeito de conversar, os amigos, os lugares que frequentava, mudara de hábitos, só não conseguira mudar os pensamentos, esses “brotavam” espontaneamente embora se esforçasse para pensar em outras coisas, eles até iam embora, mas sempre voltavam e as vezes parecia quase impossível tentar pensar em coisas diferentes. Mas por enquanto estava dando certo. Era isso que as pessoas que já haviam conseguido ficar mais tempo sóbrios diziam, um dia de cada vez, “só por hoje” era seu lema. Outra batalha que travava era contra a desconfiança, todas as pessoas próximas a ele desconfiavam dele, sempre que saia tinha que dizer aonde ia, se se atrasasse um minuto o celular tocava _Aonde você esta?_ Você estava demorando ai resolvi ligar pra ver se estava tudo bem! Era sempre assim. Mas sabia que a culpa era sua, fez tantas coisas quando “estava na ativa” que agora não se sentia no direito de cobrar privacidade, seria assim por um bom tempo, pensou. Com o tempo melhora! Foi o que dissera um amigo que passara por coisas semelhantes. Mas quanto tempo iria suportar a pressão das pessoas e a pressão da “sua doença” pensou. Os poucos meses que estava na rua já estavam sendo bem difíceis para ele. Por quanto tempo iria conseguir ficar limpo, pensou mais uma vez.

Denis Glauber da Silva Reis
Enviado por Denis Glauber da Silva Reis em 17/01/2015
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