Muito corpo e pouco conteúdo

Estava eu no setor de frutas e verduras de um supermercado quando tudo aconteceu. Eu olhei para ele, ele olhou para mim e foi paixão a primeira vista. Um arrepio percorreu todo o meu corpo. Quanta elegância! Eu só tinha olhos para ele. Chamei a minha amiga que estava próximo para contar a minha descoberta. Ela olhou e disse: “Normal!”. Quanta insensibilidade, ele poderia ser tudo menos normal. O belo exige olhos treinados. Ela continuou o que estava fazendo, enquanto eu descansava meus olhos naquele colírio da natureza. Era a primeira vez que o via por ali. Deveria ser gringo, parecia meio deslocado.

Aproximei-me com cuidado, ele permaneceu inerte aguardando a minha aproximação. Que cor linda! O cheiro então, nem se fala. Não resisti, e tocá-lo foi inevitável. Os meus dedos passeavam pela sua pele, enquanto seu cheiro me transportava para um longo passeio através dos sentidos. De repente uma roda de carrinho tirou-me do torpor em que me encontrava. Uma dor lancinante me trouxe de volta à realidade.

É claro que naquela tarde mesmo o levei para casa. Não via a hora de apertá-lo. Qual não foi a minha surpresa, quando percebi que ele tinha muito corpo para pouco conteúdo. Toda aquela pompa para nada! Quanto desperdício! Quanto mais eu apertava, menos caldo saia. Meus sentidos foram duramente enganados por um Limão Siciliano...

Leila Bomfim
Enviado por Leila Bomfim em 13/01/2015
Reeditado em 16/01/2015
Código do texto: T5099889
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